31/07/06

2,75 euros mal gastos




É impressão minha ou as revistas de “grande informação” estão a perder qualidade? Será um problema do Verão? Ou será só de algumas revistas?
Há dias comprei a Focus, que, confesso, não lia há bastante tempo. Mas tinha ideia de que se tratava de uma revista de qualidade, que abordava de forma séria e mais ou menos aprofundada temas relevantes da actualidade.
Fiquei espantada quando me deparei com várias páginas dedicadas a mexericos ou frases supostamente interessantes de pessoas famosas (ex: Fátima Lopes: «Tenho as emoções à flor da pele» ou esta, ainda melhor, de Giselle Bundchen: «A bunda é minha e quando estou na passerelle sabe Deus para onde os homens olham. Acho que devo guardar a minha bunda para ocasiões especiais»), ainda por cima citadas de outras revistas ou jornais.
Não me espantaram tanto os erros de Português (ex: «Iman mantém uma óptima figura e nunca se enibe de a mostrar»), mas a sua variedade e frequência deixaram-me pouco menos do que arrepiada. Admirei-me com a banalidade do conteúdo do artigo de capa sobre a traição, cuja qualidade (ou falta dela) não está acima nem abaixo dos outros artigos, de resto, sendo simplesmente medíocre. E ainda me surpreendi com algumas opões gráficas pouco felizes, como por exemplo apresentar como “contraponto” duas visões de duas pessoas de partidos diferentes que afinal eram da mesma opinião, ou ainda ilustrar um artigo sobre o Plano Nacional de Leitura com uma fotografia de uma idosa a ler uma revista com fotos de página inteira, o que obviamente nada tem que ver com os objectivos do tal plano. E, para me impacientar ainda mais, aparecem anúncios constantes, de página inteira ou mesmo dupla, a promover conjuntos de copos e pratos promovidos pelo Grupo Impala.
Enfim, pus a Focus no papelão e decidi nunca mais comprar outra. O que é que me aconselham? A Visão?

30/07/06

A PERGUNTA FATÍDICA

A partir dos quinze anos, mais ou menos, começamos a sentir uma ligeira, mas insistente pressão social que, se não nos incomoda muito, pelo menos nos irrita um bocadinho. Em praticamente todas as ocasiões sociais, os tios, conhecidos, amigos dos pais, parentes afastados e todos os chatos que nos virem vão fazer-nos uma pergunta indiscreta e insistente que ouviremos com um sorriso amarelo até sermos avós: a pergunta inevitável.
A pergunta inevitável é irritantemente presivível, embora vá variando, conforme a fase da vida em que estamos. No entanto, a sua essência mantém-se a mesma: basicamente, é uma pergunta que nos dá vontade de responder, a quem a faz, “meta-se na sua vida” ou qualquer coisa mais prosaica de significado semelhante, mas à qual nunca respondemos isso, porque somos educados. Através dela, nas suas várias formas, a sociedade pressiona-nos para sermos mais um membro da carneirada, bem integrado e fiel à tradição ancestral.
Aos quinze, a pergunta é “então, já tens namorado/a?”. Depois, quando já temos namorado/a, muda para: “então e quando é que é para casar?” Se nos casamos, ou começamos a viver com alguém, a pergunta passa a ser: “então e filhos?” E quando temos o primeiro filho, muda para “e um mano, quando é que vem?” Se, de facto, temos mais do que uma criança, as coisas acalmam. Mas, assim que os nossos filhos chegam aos quinze anos, começam a chateá-los a eles, ou a nós por eles, com as mesmas perguntas, até à fase em que nos voltam a interpelar directamente para saber quando é que aparecem os netos.
Quem tem a ousadia de não seguir o curso normal da existência humana, de acordo com esta lógica, habilita-se a sofrer graves danos psicológicos por causa da fatídica pergunta. Eu lembro-me de me sentir profundamente embaraçada por não ter namorado na altura em que me faziam essa pergunta, que já não era suposto ter de ouvir. E também me lembro de ter relações desastrosas com rapazes nas quais me aventurei apenas para não ter de continuar a responder que não tinha namorado, ou a disfarçar, ou a mudar de assunto. E imagino que as mulheres que não se casaram nem têm filhos continuam a ouvir a pergunta cada vez com mais raiva, até ao dia em que a sociedade as dá como “caso perdido” e deixa de ter esperança que elas entrem no esquema.
Neste momento, ouço a do “mano” todas as semanas. E o mais giro é que o diálogo que se segue à pergunta é sempre o mesmo:
- e não queres ter outro?
- sim, quero.
- já está na altura...
- eu sei.
- ah. Mas não stresses! O pior que há nessas coisas é o stress!
( GRRRRRRRRRR! )

29/07/06

BELEZA, A QUANTO OBRIGAS!




Alguém me explica porque é que é preciso sofrer tanto para ficarmos bem trajados?
Ontem estive numa festa de casamento e, como sempre, (sobretudo no Verão), homens e mulheres suportavam o mais discretamente que podiam o suplício da “toillete”. Eles suavam copiosamente por baixo dos casacos, atormentados pelos nós das gravatas. Elas movimentavam-se cautelosamente, tentando minimizar os danos causados nos pés e nas pernas pelos maléficos sapatos de salto-alto.
Os sapatos “chiques” de senhora devem ter sido concebidos por alguém que acredita que as mulheres ainda não sofreram o suficiente pela indesculpável falta cometida por Eva. Ou então por um extra-terrestre infiltrado entre nós que tinha saudades de casa e resolveu desenhar os sapatos à medida das saudosas alienígenas, que têm um só dedo no pé. Ou então por um idiota qualquer que teve a infeliz ideia de desenhar o sapato sem se lembrar de, primeiro, desenhar o pé que fica lá dentro.
E o mais irritante é que nós, mulheres, somos as primeiras a concordar que, com esta forma cruel, o sapato faz o pé mais bonito. Qualquer dia temos senhoras a fazerem operações plásticas aos pés para que estes melhor se adaptem aos sapatos de festa...

PRESO POR TER CÃO E...

Curioso... há dias escrevi um post sobre as críticas e a minha dificuldade em aceitá-las. Nem me passou pela cabeça que também me custa muito aceitar elogios! Uma amiga leu esse “post” e começou-me a dizer que gostava dos meus cozinhados e dos meus desenhos. E eu já queria discutir com ela, para provar que a minha comida e as minhas ilustrações não valem nada!
Os elogios incomodam-me. Porque será? Sacudo-os quase com violência, como se aceitá-los significasse render-me a uma qualquer evidência demasiado aterradora para eu a suportar. Não é teatro, não é falsa modéstia. É mesmo uma espécie de fobia psicológica. E não devo ser a única pessoa assim.

27/07/06

SAUDÁVEL INVASÃO





Já estava a começar a gostar do trabalho, quando me apercebi de que não podia continuar. Tinha desenhado o Pai Natal a segurar os balões na mão esquerda e a história dizia “mão direita”. Logo havia de ser canhota! Ou desatenta. Ou as duas coisas...
Ainda tive a veleidade de pensar que a autora do conto mudaria o texto por mim. Afinal, trocar uma palavra na história daria muito menos trabalho do que fazer outro desenho. Mas foi veleidade mesmo. E tinha de aprender à minha custa a prestar mais atenção ao que faço.
Quando disse à minha filha que o podia pintar, a carinha de espanto alegre que ela fez compensou logo a situação. «Posso, mãe?» – Sorriso largo de antecipação. Na boca e, sobretudo, nos olhos ainda mais abertos.
Não pintou durante mais do que dois minutos. Mas divertiu-se a invadir com as suas cores o desenho que antes era “proibido”. Dei por mim a pensar que não me importaria de me enganar mais vezes.

26/07/06

AGORA A SÉRIO...

Resolvi dedicar-me à futurologia linguística.
Tenho andado a tomar nota, num caderninho, das palavras, expressões e construções que eu acho que vão mudar na nossa língua, a maioria das quais por uma simples razão que, de resto, tem vindo a alterar este e outros idiomas desde os tempos em que se formaram: o erro.
O erro é criticado e combatido, mas apenas quando soa mal e a generalidade das pessoas o identifica. Quando a maior parte dos falantes comete determinados erros, o mais certo é que eles acabem por vingar. Porque, em muitos casos, quem está errado ainda tem o descaramento de corrigir os outros, que estão certos (um fenómeno a que se chama “hipercorrecção”). Estes, por sua vez, começam por duvidar do que dizem ou escrevem e acabam por adoptar as estruturas erradas, que assim encontram o caminho aberto para se consagrarem pelo uso.
Para mim, algumas dessas expressões, hoje erradas mas consideradas certas por muita gente, e que de certeza vingarão daqui a uns anos, são as seguintes:

- grama vai ser um substantivo feminino (por enquanto ainda é masculino)
- avestruz também (idem)
- “concerteza” vai ser escrito assim (por enquanto ainda são duas palavras: com certeza)
- matado, morrido, imprimido, entregado, etc. vão desaparecer (estes particípios devem ser usados com o auxiliar ter, mas quase ninguém gosta deles)
- “devem haver” e “tinham havido” vão passar a ser formas correctas (hoje estão erradas)
- “há-des” e “há-dem” serão formas aceites (deturpações de hás-de e hão-de)
- “benvindo” talvez se venha a escrever assim (é bem-vindo)

Desde já vos convido a avançar com mais sugestões de erros que vão deixar de o ser daqui a uns anos. E depois vimos aqui ver este post “antigo” e confirmar as nossas suspeitas!

PRANCHAS HÁ MUITAS!

Estava uma tábua de passar a ferro, ainda embrulhada no plástico, encostada a uma parede da cozinha. A minha filha de 3 anos chega a casa e, ao ver a tábula, pergunta:
- ó mãe, isto é para o surf?

25/07/06

KUALÉ UPRUBLÊMA?

Ôje tiva brinkar cõ um amigu nu messenjer a xcrever maizó menuzassim. Não é muitu difrente duke fazem ux tineijers dagora. Eu ká não perssebu nada duke elescrevem. Mazeles entendem-se, au ke paresse. E na xkola, também já vão axandu kius prófes tãiãi obrigassão de perceber a linguajem deles. Desde ke se persseba u kontiúdo, a maneira como as palavras tão xcritas não intréssa, é u kelezaxam.
E kualker dia os prófes aderem à moda, e entretanto uzalunux vão passando danu, até ke chegam à fakuldade e tiram cursus de prófes. E depois vão ensinar ux nossux filhux a xcrever açim. Vai ser bué da fixe!

24/07/06

DÊEM-ME NA CABEÇA!

Tenho uma fraqueza enorme. Tenho muitas, na verdade. Mas há uma que me tem incomodado mais do que as outras nos últimos dias: a minha dificuldade em lidar com críticas.
Detesto fazer as coisas mal feitas. E isto deveria levar-me a tentar, dentro do possível, fazer apenas aquilo que sei que vai resultar à partida. Mas não é assim. Porque, apesar de parecer uma perfeccionista, tenho a mania de fazer várias coisas ao mesmo tempo e não tenho paciência para demorar muito com cada uma. Assim se justificam os meus péssimos cozinhados, as minhas aguarelas trapalhonas e estes textos manhosos. E quando alguém me faz algum reparo, fico tristíssima. Sem razão nenhuma, porque, afinal, eu sou a primeira a reconhecer que o trabalho podia estar muito melhor.
Preciso de aprender a aceitar críticas e a melhorar com elas.

23/07/06

TEORIA DA TANGA SOBRE A FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE





Confesso que sou uma adepta incondicional das teorias da tanga.
As teorias da tanga são avançadas por pessoas que, tendo bastante tempo livre, decidem ocupá-lo de uma das formas mais nobres: pensando. São teorias de formulação rápida (algumas são quase instantâneas), pelo que não exigem demasiado do cérebro; ajudam a desenvolver a capacidade de argumentação (mais do que a de raciocínio) e fornecem temas praticamente inesgotáveis de conversa, quase sempre mais interessantes, sem dúvida mais originais, do que outros tão desgastados como o do futebol, o da crise ou o do tempo atmosférico.
E um destes dias, como é meu hábito, inventei uma teoria da tanga, desta vez relacionada com a construção da personalidade, que passo a explanar. E desde já agradeço todos os vossos comentários, no sentido de confirmar ou refutar esta pseudo-teoria.
A minha teoria de construção da personalidade baseia-se no facto de haver essencialmente quatro grandes factores que a influenciam, de forma diferente, conforme a idade. Dos 0 aos 12 anos, a personalidade do indivíduo constrói-se, essencialmente, sob a influência do meio familiar. Há aspectos e tendências que são herdados dos progenitores e outros que são adquiridos por assimilação de padrões, através da convivência com os membros da família imediata e da chamada “educação”, ou seja, dos hábitos e valores que lhe são incutidos dentro do meio familiar. A partir dos 12 anos, e essencialmente até aos 22 (e embora o meio familiar continue a ter alguma importância na formação da personalidade), surgem dois outros: o meio escolar e o meio dos amigos, que se vão tornando progressivamente mais importantes. O meio escolar incute valores e padrões de comportamento que influenciam a personalidade através do hábito e da necessidade de integração social. O meio dos amigos também influencia a personalidade em virtude da necessidade de integração no grupo, e torna-se dominante sobretudo porque é o meio eleito pelo indivíduo, no sentido em que este opta conscientemente por se deixar influenciar por este meio, muitas vezes por envolver valores e comportamentos contrários aos do meio familiar, do qual o indivíduo se pretende libertar. Finalmente, entre os 22 e os 32 torna-se mais importante a influência do meio laboral, que é o último a afectar a construção da personalidade do indivíduo. Com efeito, mesmo depois de nos tornarmos adultos, a nossa personalidade ainda sofre alterações em função das nossas experiências nos primeiros anos em que temos um (ou mais) emprego(s) e nos vemos obrigados a adaptar a nossa maneira de ser às necessidades que o mundo do trabalho nos impõe. É uma fase da vida em que descobrimos que, afinal, ainda éramos ingénuos e ainda tínhamos muito que aprender.
No gráfico o peso de cada meio na formação da personalidade é atribuído independentemente da fase da vida em que o indivíduo se encontra, em termos globais.
E esta é, essencialmente, a minha teoria da tanga sobre a formação da personalidade.

Lá vão os veleiros




Que giro ver os veleiros a passar em frente à varanda! Quem me dera ir num deles...

21/07/06

O PRINCÍPIO...







Talvez tenha sido mordida, talvez seja uma alergia ou uma estranha (mas não inédita) partida do meu sistema nervoso. Andei todo o dia com os óculos escuros do meu marido (porque perdi os meus), para que ninguém visse o horrível estado em que se encontra a minha cara, com papos grotescos debaixo dos olhos. Tenho imensa comichão e não sei o que fazer. Ontem à noite pus um creme para picadas e hoje acordei muito pior... Será que estou a sofrer uma lenta metamorfose?

20/07/06

:(

As pessoas velhas suscitam normalmente a bondade e a compaixão das outras. Fazem-nos pena, porque estão na fase final da vida, são frágeis e fracas e toca-nos a sua vulnerabilidade e a sua incapacidade para se movimentarem normalmente, para verem, ouvirem, enfim, para serem independentes e autónomas.
As pessoas muito velhas parecem naturalmente boas. Como se cada velhinho ou velhinha, independentemente do seu passado, se convertesse numa pessoa querida, só por causa da sua avançada idade. É uma ideia que me passou pela cabeça, mas acho que pelo menos algumas pessoas que estão a ler isto já sentiram o mesmo.
Infelizmente, porém, há pessoas velhinhas que são intriguistas e sonsas. Que estão muito mais lúcidas do que parecem e que se fazem ainda mais cegas e surdas, para melhor conseguirem os seus intentos. Pessoas que, por mais dó que suscitem, com as suas costas curvadas, os seus involuntários meneios de cabeça e o seu olhar distante e baço, estão a congeminar maneiras de favorecer uns e prejudicar outros, agem de má fé e tentam provocar-nos, para que digamos coisas que depois usarão contra nós.
Mesmo quando já têm 93 anos. Mesmo quando sempre nos demos bem com elas e nunca lhes quisemos mal.
E quando calha fazermos essa descoberta acerca dos nossos próprios avós, não podemos deixar de ficar tristes. E não podemos continuar a fingir que não estamos chocados, indignados, magoados. E então não conseguimos desculpá-los por serem velhos. Eu, pelo menos, não consigo.

PULAR A SEBE







Soa assim tão mal? Porque é que traduziram “Over the hedge” por “pular a cerca”?! Até as pessoas que não sabem inglês por aí além sabem que “cerca” é fence. E, seja em que língua for, uma cerca é feita em madeira, plástico ou outro material. A sebe é feita de arbustos cortados, como a do filme!
Eu não entendo como é que as pessoas que fazem traduções manhosas de livros e filmes conseguem que o seu mau trabalho passe despercebido e seja aceite, sobretudo quando tem uma projecção tão grande. Devem ter muita sorte! Eu, quando faço uma tradução menos feliz, sou sempre chamada à atenção pelos meus clientes... talvez seja eu que tenho azar com os clientes!

19/07/06

ROMANCE À VISTA!

Um amigo meu começou a escrever um romance. Que excitação! Quando é que ele mo vai deixar ler? Quero ser uma das primeiras pessoas a tomar contacto com as páginas iniciais de algo que pode bem vir a ser um best-seller... nunca se sabe!
Para mim, é uma grande alegria saber que um amigo está a escrever um texto de ficção com a intenção de o publicar. Por mais e melhor que a Internet satisfaça a nossa vontade de divulgar o que escrevemos, um livro é sempre um livro. Tem aquela aura mágica e aquela dignidade que a “web” nunca lhe roubará. E depois, um romance é uma coisa infinitamente mais complexa e difícil de conseguir do que um simples artigo para um blogue. Um grande desafio que nem toda a gente tem a capacidade ou a predisposição para aceitar.
Para ele, também deve ser uma fonte de alegria escrever um romance. Mesmo que não o acabe, porque o maior prazer está em começar a escrevê-lo. Se a imaginação falha ou o interesse se desvanece, torna-se uma fastidiosa obrigação, ou uma frustração, e assim mais vale deixá-lo morrer e não pensar mais nisso. E mesmo que nunca o chegue a publicar, se alguma vez chegar ao fim vai ficar imensamente satisfeito pelo que conseguiu. Além de que terá um belo presente para oferecer aos amigos, até ao fim da vida (em versão “home-made”, o que faz com que tenha ainda mais valor para quem o recebe!). E se alguma vez for publicado, mesmo que não venda nem um exemplar, o autor também se poderá dar por feliz. Porque estes tempos modernos têm essa vantagem: se vendem, os livros tornam-se motivo de orgulho e fonte de rendimento. Se não vendem, tornam-se motivo de orgulho, embora não de rendimento. Porque como os livros que mais se vendem são cada vez de pior qualidade, quem não vende até se acaba por sentir bem por ser preterido.
Força, amigo! E manda lá isso assim que puderes, que eu estou para aqui cheia de curiosidade!

DECISÕES DA TRETA

Ontem não escrevi nada, por isso hoje tenho de escrever dois artigos, para compensar. Afinal, tinha prometido a mim própria que escreveria um artigo por dia e foi há bem pouco tempo, não posso começar já a falhar! Senão, esta decisão/promessa torna-se mais uma daquelas resoluções típicas das mulheres (alguém me explica porque é que os homens não fazem resoluções destas?!) que acabam inevitavelmente por não servir para nada, só para nos cansarmos.
Vocês sabem do que eu estou a falar! Qual é a mulher que nunca decidiu começar a fazer dieta no dia seguinte, mas depois foi adiando a data de início dessa dieta que afinal nunca chegou a fazer? Quantas mulheres não decidiram começar a beber 1,5 litros de água por dia, mas depois só conseguiram fazê-lo durante três dias seguidos? Quem, de entre as mulheres que estão a ler este blog, é que nunca tomou a decisão de começar finalmente a fazer exercício físico regularmente, mas depois chegou à conclusão de que não tem tempo ou paciência?
Mesmo que algumas mulheres escrevam comentários a este artigo a dizer que por acaso nunca fizeram dessas resoluções da treta, tenho a certeza de que são uma minoria, em relação àquelas que vão ficar caladas... ou àquelas que vão decidir deixar de fazer decisões dessas para poderem comentar este artigo, mas que nunca vão conseguir!

17/07/06

O REINO BUÉ BUÉ LONGE












(Foto da minha amiga Papel Químico)



Há bastante tempo que tenho o sonho de ir aos Açores, mas não tem calhado... (agora eu faria aquele gesto de esfregar o polegar contra o indicador, para mostrar que a expressão “não tem calhado” é na realidade uma referência irónica à falta de dinheiro).
Infelizmente, a vida está cada vez mais cara, como toda a gente sabe, e os miseráveis aumentos dos ordenados, quando acontecem, não chegam para fazer frente ao custo cada vez mais elevado dos produtos essenciais, para não falar do preço dos pequenos luxos a que todos nos habituamos e que estupidamente tendemos a considerar igualmente essenciais.
Assim, junto-me aos 53% de Portugueses (não sei se a percentagem é bem esta, mas faz de conta) que vão ficar em casa por falta de meios financeiros para ir de férias. Entretanto, vou lendo sobre os Açores. Assim, quando puder lá ir, vou saber mais sobre as ilhas do que os próprios açorianos!

16/07/06

AUTO-CENSURA



















Não é possível agradar a toda a gente, já sabemos. O que às vezes esquecemos é que é extremamente fácil desagradar a alguém.
E “os blogues são uma anarquia”, diziam-me ontem um amigo. Realmente, se toda a gente escreve e publica o que lhe vai na cabeça, sem se preocupar com as susceptibilidades que pode ferir, é possível, a cada momento, esbarrarmos com algo que preferíamos não ter lido, ou visto. Não há qualquer espécie de censura neste meio.
Se eu disser que, por isso mesmo, devemos ser nós os primeiros a auto-censurarmo-nos, no sentido de avaliarmos o grau de “animosidade” que as nossas ideias podem suscitar, evitando publicar aquilo que possa ofender ou magoar os outros, tenho a certeza de que há muita gente que me vai criticar por dizer isso. «Era o que faltava, aplicarmos censura a nós próprios, quem não quiser, não leia», e por aí fora.
Mas eu já escrevi coisas que magoaram e ofenderam algumas pessoas e não gostei nada de fazer isso. Perdi o sono e senti-me bastante mal por saber que, mesmo involuntariamente, fiz com que alguém se sentisse lesado pelas minhas palavras.
Infelizmente, tenho alguma falta de sentido de oportunidade e sou capaz de dizer coisas que magoam os outros sem me aperceber disso. Mas acho que tenho o dever de me auto-censurar. E de ter mais cuidado com o que publico. Para, em vez de pedir desculpa às pessoas que ofendo, nem sequer ter de chegar a esse ponto.

15/07/06

"ELEVAÇÃO ESTILÍSTICA"

Elevação estilística. Não ser corriqueiro, banal na forma de se expressar; enlear, encantar, surpreender, eram essas as diferenças que transformavam em literário um texto. E para o conseguir os processos revelavam-se sem fim. A criação de um ritmo parecia-lhe que teria sempre de existir. Mesmo na prosa. Só que, como na música, o ritmo podia resultar bem ou não; ficava novamente sem conseguir definir um critério de qualidade. [...] A boa era a que nos maravilhava com a descoberta de algo que já sabíamos, era a que confirmava magnificamente o que nunca fôramos capazes de sintetizar.

Sérgio de Sousa, Trilha Encoberta, vol. III, Lisboa, Editorial Escritor, pp.140-1.

Giro. Estas palavras fazem precisamente isso.

14/07/06

Sucedâneo serôdio

Hoje ia dando cabo da coluna (outra vez) a tosquiar o cão. Quando me pus em pé, ao fim de três quartos de hora dobrada a tesourar-lhe o pêlo, até vi estrelas. Tive de me ir esticar na cama para criar a ilusão de que podia remediar o mal já feito.
Depois dei por mim a recordar, com alguma saudade, os três dias que passei no hospital quando fui operada à coluna. Será possível?
Claro que, quando o hospital é privado, a experiência (em princípio) não é tão traumática. As enfermeiras e auxiliares sempre nos tratam um bocadinho melhor e as instalações são ligeiramente (muuuito ligeiramente) mais confortáveis, embora o ambiente seja igualmente depressivo, simplesmente porque se vê gente a sofrer por todo o lado.
Mas à partida ninguém gosta de estar internado num hospital, mesmo num privado. O que é que me leva a recordar a experiência com alguma nostalgia?
Na verdade, já quando lá estava me apercebi de que sentia um conforto melancólico e estranho, como se me estivessem a dar uma espécie de sucedâneo de carinho que me tivesse feito muita falta, há muito tempo, provavelmente na infância. Só sei que estar rodeada de gente a cuidar de mim me fez sentir bem. Mesmo num hospital.
Talvez isto seja triste. Talvez seja normal.

GRAU DA TANGA

Hoje fui promovida!
Já não ia ao talho há algumas semanas e quando lá cheguei fui agradavelmente surpreendida com um “Doutora” que nunca antes me havia calhado. Sempre me intrigou a lógica, para mim totalmente misteriosa, da atribuição de títulos académicos por prestadores de vários serviços, desde porteiros e mulheres-a-dias até lojistas e empregados de restaurantes. Também não foi hoje que passei a perceber quais são os critérios que levam esses funcionários a promover alguns clientes em detrimento de outros.
Enquanto estava a ser atendida, fui tentando descortinar o motivo que poderia estar por trás de tal alteração. E o homem chamou-me “doutora” umas três vezes, como que a confirmar que, de facto, eu tinha passado a ser uma dessas pessoas eleitas a quem o grau académico é atribuído “honoris causa”. Não podia ser por ter lido o “Dr.ª” no meu cartão multibanco, porque o cartão era o mesmo de sempre e ele ainda nem o tinha visto. Também não estava ninguém comigo que por acaso tivesse referido o facto de eu ser professora ou licenciada. Não conheço quase ninguém ali e era altamente improvável que lhe tivessem falado de mim. Seria porque eu não ia lá há algum tempo e o homem achou que aquela era uma boa maneira de me adular, para que eu voltasse com mais frequência? Ou terei aparecido na televisão?! Sim, porque aparecer na televisão talvez seja um dos critérios mais usados para a selecção dos premiados com este tipo de promoção...

12/07/06

SIMPATIA A MAIS

Há pessoas que, por mais simpáticas que sejam, não nos conseguem conquistar. Ou é porque se aproximam demasiado quando falam connosco e têm um hálito esquisito, ou é porque nos agarram no braço sem querer quando falam, mesmo quando está demasiado calor, ou é porque fumam na nossa presença e têm os dentes e os dedos amarelos. Outras vezes, o problema delas (ou melhor, o nosso problema com elas) é simplesmente o facto de abusarem da confiança que não lhes demos.
Há cerca de um mês, fui a Aveiro e almocei num restaurante que me era totalmente desconhecido, como a própria cidade (que recomendo!). Achei o empregado bastante simpático e prestável e percebi que o cozinheiro também era muito afável, quando ele se aproximou da nossa mesa para perguntar se tínhamos gostado do almoço – o que é perfeitamente normal.
Mas depois o cozinheiro (que talvez fosse dono, ou pelo menos sócio, embora isso não seja relevante) voltou, para se “meter” comigo. E como eu estava com a minha (única filha) e mais duas crianças, filhas de uma amiga, ele observou qualquer coisa sobre as crianças serem o melhor da vida. E eu, que não gosto de me limitar a fazer que sim com a cabeça, ou a retribuir com um sorriso amarelo, quis ser simpática também e respondi que concordava e que estava precisamente a pensar ter outro filho. Será que lhe dei confiança a mais por isso? A verdade é que fiquei pasmada quando ele me respondeu: “Ó menina, deixe lá o comprimido!”
E quando íamos a sair do restaurante, já era tarde e ele estava sentado a almoçar, ainda acrescentou: “Ó menina, veja lá essa situação!”

11/07/06

SIGNIFICÂNCIA

Desde Novembro de 2004, quando criei o meu primeiro blogue, que esperava um comentário teu. Podes achar isto ridículo e mesmo incompreensível, mas o teu comentário era muito importante para mim.
Dizias-me que falavas comigo todos os dias e que por isso podias comentar os meus textos oralmente, ao vivo, não era necessário escreveres. Mas eu sempre te dei a entender que, para mim, havia uma grande diferença entre deixares a tua marca na minha “casa virtual” e falares comigo sobre o que lias. Não sei se compreendes esta minha paixão pela escrita e pela leitura, esta minha teimosia em ver as palavras, em vez de me limitar a ouvi-las. Talvez seja porque sou distraída e sinto a necessidade de ter sempre à mão as coisas de que me quero lembrar.
Sei que gostas de ler o que escrevo, mas até que ponto entendes que não se trata de um simples capricho, ou de um mero passatempo de quem tem muito tempo livre?
Hoje disseste-me que tinhas comentado o meu blogue. Certamente reparaste como fiquei feliz, quase eufórica. Fiz-te perguntas, exigi saber qual era o teu comentário, porque não o assinaste. Como não quiseste revelar-me o que tinhas escrito, vim logo à procura, para ver se descobria quais eram as tuas palavras, entre todas as outras.
Agora venho agradecer-te por me teres dado esta pequenina atenção. O teu gesto pode significar pouco para ti, podes bem esquecer-te dele daqui a pouco tempo. Mas para mim realizou-se um desejo. Não te rias! Nem eu sei explicar porque dou tanta importância a isto. Mas dou, pronto. E quero que saibas que me fizeste feliz com essa (in)significância.

10/07/06

SIMPLES E LÓGICO
















- Essas sandálias são óptimas, sabes, filha, porque depois, na praia, podes ir com elas para a água e tudo, que não se estragam!

- Pois é, mãe! Porque o mar é azul e as sandálias também são azuis!

GUINCHO

Ela nunca lá tinha ido. Qualquer praia lhe serve, claro, mas quando viu aquele mar de areia ondulada sorriu de entusiasmo. Também eu sorri, porque há muito tempo que não ia lá e então percebi que tinha tido saudades.
As dunas brancas, limpas e lisas, o vento quente e ainda não muito forte, a vegetação espigada, de um verde suave, dançando, convidavam-nos a tirar os sapatos e atravessar aquele deserto de brincar. Avançámos pelos montes e vales, nalguns sítios agradavelmente rígidos, de modo que mal se notavam as nossas pegadas, noutros marcados com riscas suaves desenhadas pelo vento, como se muitas cobras ali tivessem deslizado juntas. «Vamos, mãe! Vamos andar nas costas daquela baleia!», puxava-me ela, excitada. E eu consegui olhar para as dunas e ver baleias aos montes, andar sobre as suas costas e deitar-me sobre elas, como se fosse criança outra vez.

09/07/06

O que é amar?

“Amar consistia em confiar absolutamente, ao ponto de se poder abandonar de encontro ao corpo da pessoa amada. Não era o sentimento que experimentava perante a mãe?”

Sérgio de Sousa, Trilha Encoberta, vol. III, Lisboa, Editorial Escritor, p.26.



Eis uma das marcas que distinguem um escritor maduro, quanto a mim: alguém que tem a ousadia de avançar com uma definição de um conceito tão explorado e ambíguo como o do amor. Alguém que, alvitrando essa síntese, consegue surpreender-nos, dizendo algo novo e acertado. A mim, pelo menos, pareceu-me assim.

07/07/06

CHACINA VEGETAL
















Funcionários da Câmara Municipal vieram ontem cortar uma enorme árvore da borracha que oferecia uma bela sombra a quem passasse num pátio público aqui perto de casa. Fiquei tão indignada e triste que me vieram as lágrimas aos olhos. Que mal fez ela? Reparei que cortaram também um pequeno jacarandá que lhe fazia companhia. Estúpidos. Brutos.
Não há quem defenda as árvores destas atrocidades que, ainda por cima, são cometidas por pessoas protegidas pelo poder dominante. Mais tarde até se pode descobrir que foi um erro, mas os culpados ficarão sempre impunes. E as árvores vão sendo vitimadas para dar lugar à secura. Como se os incêndios não bastassem!
Agora, o pátio está exposto à torreira do sol implacável. O calor persegue todos os que o atravessam, não havendo um canto aprazível para descansar. As plantas que ainda sobrevivem pelos canteiros ficaram, também, sem uma sombra que as compense pela falta de água.
Estou revoltada. E não posso fazer nada.

06/07/06

MULHERES EDUCADAS

“Infelizmente as mulheres educadas retardavam a hora de serem simplesmente mulheres.”

Sérgio de Sousa, Trilha Encoberta, vol. III, Lisboa, Editorial Escritor, p.28.


Muitos casamentos, segundo consta, falham porque as mulheres (“educadas”) não se permitem esta “liberdade” de serem “simplesmente mulheres”, de se despirem de preconceitos e ideias antiquadas, de se libertarem de receios e de se empenharem em descobrir e amar o seu próprio corpo.
Sobre nós, mulheres, recai uma pressão social muito mais autoritária e auto-mutiladora do que sobre os homens. Muitas acabam por desprezar o seu corpo por terem gordura, celulite, pêlos, etc., “atributos” naturais e quase sempre inevitáveis que os homens, pelo contrário, se podem dar ao luxo de cultivar (quantos são os que realmente têm vergonha da sua barriga ao ponto de fazerem os mesmos sacrifícios que as mulheres fariam?), ou pelo menos de ignorar.
As mulheres que não amam o seu corpo, porque não conseguem ser como as modelos que a sociedade lhes atira à cara dezenas de vezes por dia, acabam por não conseguir amar livremente os homens com quem vivem, por se inibirem perante a sua própria nudez e por terem receio de ser rejeitadas.
E são muitas as mulheres que não têm nem metade do prazer que, ainda assim, se esforçam por proporcionar aos seus maridos. Mas, naturalmente, se não são felizes, não conseguem fazê-los felizes. E como o assunto é delicado, não falam sobre ele com ninguém, nem mesmo com a maior parte das amigas.
Ontem falei pela primeira vez sobre este assunto com uma amiga. E depois li esta frase do Sérgio de Sousa, que me fez sorrir. Porque, após a conversa, me pareceu que entendia muito melhor as implicações daquela afirmação.

05/07/06

PRIORIDADE





Apesar de me apetecer continuar a ler o Sérgio de Sousa, a minha prioridade neste momento é fazer algumas ilustrações para um livro infantil.
Ao contrário do que pensa toda a gente com quem falo sobre esta tarefa, trata-se de algo que não me dá prazer. (Quando digo isto, comentam: “dá Deus nozes a quem não tem dentes!”). Sim, claro que gosto de ver o trabalho feito! Mas fazê-lo é que é pior... De qualquer forma, não me estou a queixar! É apenas a título informativo que aqui deixo este desabafo. : -D
E a fotografia até ficou gira!

Primeiro contacto
















"Num primeiro contacto, quando se conhecia ainda pouco o interlocutor, tornava-se imprescindível manter todos os sentidos bem despertos, para captar as mínimas nuances; só assim se controlavam as situações."

Sérgio de Sousa, Trilha Encoberta, vol. III, Lisboa, Editorial Escritor, p.20.


Amanhã vou conhecer, ao vivo, uma pessoa que nunca vi. Esta passagem do livro que estou a ler afigurou-se-me, por isso, particularmente relevante. Quando a li, senti que era de facto isso que eu iria fazer, ainda que não tomasse consciência disso, ainda que não soubesse verbalizar essa preocupação em "captar as mínimas nuances" para poder "controlar" a situação. Esta última expressão intriga-me. O que será que o autor queria dizer com isto, exactamente?
Para mim, controlar a situação significa controlar-me. Sim, sobretudo a mim própria. Controlar a minha exposição ao outro, conforme os sinais que vou captando. Por mais que eu queira agradar, por mais que me queira expor, é preciso saber perceber se essa pessoa quer que eu me revele, que me ofereça.
Hoje uma amiga disse-me uma coisa surpreendente sobre mim: "tu és perigosa. O que vale é que ninguém te leva a sério." Talvez eu pudesse ter ficado ofendida, ou chocada.
Mas não. Fiquei surpreendida, porque achei que ela tinha acertado em cheio. Incrível.