23/04/08

delírio psicossomático

Passam-me às vezes ideias tão parvas pela cabeça! (Espero que também vos aconteça...)

Acreditam que eu acredito que a posição em que durmo está relacionada com a minha psique? Eu explico: tenho muita dificuldade em ficar cabeça virada para a frente, quando me deito de barriga para cima, à noite. Tenho sempre tendência para virar a cabeça para um dos lados, de tal forma que comecei a pensar que havia nisso um motivo qualquer. Cheguei à conclusão de que é por ter medo de enfrentar as coisas que me assustam na vida, como se essa incapacidade para olhar para o tecto de frente espelhasse incontestavelmente a minha dificuldade em lidar com os problemas. E acreditam que, apesar de ser uma ideia absurda, continua a fazer sentido para mim?

O concurso de língua portuguesa deixou-me envergonhada perante os pais das crianças do ensino básico, que receberam prémios inadequados, ou que não receberam prémio nenhum, quando podiam ter ido para casa com um certificado de participação e não foram, porque eu não o fiz. Por mais que me apeteça dizer que fiz o que pude, com os meios que tinha, sei bem que me podia ter esforçado mais. E é aí que me vejo à noite na cama, a virar a cabeça para o lado: ou seja, a inventar desculpas para me livrar da responsabilidade de tudo o que não correu bem.
Ontem fiz um exercício: obriguei-me a ficar deitada e a adormecer de cabeça virada para a frente, como que a invocar uma nova coragem para enfrentar o desafio de assumir essa responsabilidade. E não é que resultou? Não só consegui adormecer e voltar a acordar nessa posição, como hoje de manhã, ao encontrar o pai de uma das crianças vencedoras (a quem oferecemos livros tão desadequados, que eles pensaram que tinha havido um engano!), tive a decência de me dirigir a ele para lhe pedir desculpa e para lhe prometer que no próximo ano farei melhor. Ontem, quando o vi, evitei-o propositadamente. Mas hoje olhei para ele de frente! E soube-me muito bem encontrar esta pequenina dose de coragem em mim.

Por favor, alguém me diga que isto faz um mínimo de sentido!...

21/04/08

DIA NÃO

Confesso que tenho uma forma predominantemente pessimista de ver as coisas.

Ontem apresentei um concurso de língua portuguesa em plena festa de finalistas do instituto, porque a direcção entendeu que as duas iniciativas deveriam ter lugar no mesmo dia, no mesmo local.
Para mim, não era a melhor opção, mas fiz o meu trabalho o melhor que pude, juntamente com uma colega.
Apesar de termos tido uma prestação, no meu entender, bastante positiva, a assistência estava impaciente e não gostou, sobretudo, que tivéssemos anunciado um empate e querido fazer mais perguntas às 3 pessoas que haviam ficado em 2º lugar. Fui vaiada quando disse ao microfone que era preciso desempatar o resultado e mal consegui fazer as 5 perguntas às 3 concorrentes, enquanto os finalistas, zangados com a espera, faziam barulho em sinal de protesto.
Depois de termos conseguido apurar os vencedores e de lhes termos oferecido os prémios, saímos finalmente dali, exaustas e tristes.
Hoje de manhã, no nosso blogue dedicado à língua portuguesa, ainda houve alguém que teve a gentileza de deixar um comentário depreciativo, atacando gratuitamente a minha colega.

Nestas coisas, como em tantas outras, é impossível trabalhar sem amor à camisola. Foi muito duro sermos assim expostas à má-criação e à incompreensão de um público desinteressado. Foi angustiante sabermos que os vencedores iriam receber prémios modestos e talvez até indesejados, e não os prémios que gostaríamos de ter podido oferecer-lhes. Foi difícil sairmos de lá de cabeça erguida e sorriso na cara, depois do que se passou. A única coisa que nos valeu foi a dedicação com que sempre trabalhamos e a confiança que ainda vamos tendo no que fazemos. Mas custou muito, se custou!
Por isso, hoje, quando alguém me dá os parabéns e comenta que «correu muito bem» tenho vontade de chorar.

15/04/08

Vende-se tudo!

Embirro com lojas que supostamente vendem determinado tipo de artigo e que depois começam discreta e paulatinamente a expor para venda objectos que não se integram, de todo, no género da loja, até que se tornam autênticas quermesses, cheias de tudo e de nada que se aproveite.

Conheço, por exemplo, vários cabeleireiros que agora também vendem roupa, colares e brincos, artigos de cosmética e sabe-se lá o que mais. Numa rua aqui perto há uma papelaria paradigmática desse género detestável de "loja do chinês" não assumida: vende t-shirts do Benfica, do Sporting e do Porto, molduras, bibelots e porcariazinhas inqualificáveis (das quais o mais emblemático é um bonequinho com cara de quem viu um bicho mau, a segurar mini-tabuleta que diz "amo-te"), mas sempre que lá vou para comprar papel de lustro, papel vegetal ou cartolina, nunca têm nada disso. Em vez de papelaria, está visto, devia chamar-se merd....aria.
Um destes dias fui a uma estação dos CTT e fiquei chocada, ao constatar, enquanto esperava que fossem atendidas as 10 pessoas à minha frente (só 3 balcões em 10, como sempre, é que tinham empregados atrás), que os CTT estão cada vez piores. Há anos que se lembraram de vender cartões de felicitações, álbuns para selos, livros e porta-chaves. Mas agora conseguiram superar todas as expectativas do cliente mais imaginativo! Vendem livros infantis, bonecos, telefones, canecas, kits de sócio do Sporting, ou do Benfica, ou lá de que clube é que é, eu sei lá!... Atrás do balcão, havia tanta tralha para vender, que aquilo mais parecia uma feira.

Uma vergonha, acho eu. Mas devo ser só eu...