28/06/07

Omenagem à hortografia

(Gostaria de ter escrito este texto. Espero que o autor não se importe que o divulgue aqui!)


Por: Francisco José Viegas, Escritor

A senhora menistra da Educação açegurou ao presidente da República que, em futuras provas de aferissão do 4.º e do 6.º anos de iscolaridade, os critérios vão ser difrentes dos que estão em vigor atualmente. Ou seja os erros hortográficos já vão contar para a avaliassão que esses testes pretendem efetuar. Vale a pena eisplicar o suçedido, depois de o responçável pelo gabinete de avaliassões do Menistério da Educação ter cido tão mal comprendido e, em alguns cazos, injustissado. Quando se trata de dar opiniões sobre educassão, todos estamos com vontade de meter o bedelho. Pelo menos.
Como se sabe, as chamadas provas de aferissão não são izames propriamenteditos limitão-se a aferir, a avaliar - sem o rigôr de uma prova onde a notaconta para paçar ou para xumbar ao final desses ciclos de aprendizagem.Servem para que o menistério da Educação recolha dados sobre a qualidade do encino e das iscólas, sobre o trabalho dos profeçores e sobre ascompetênssias e deficiênçias dos alunos.
Quando se soube que, na primeira parte da prova de Português, não eram levados em conta os erros hortográficos dados pelos alunos, logo houve algumas vozes excandalisadas que julgaram estar em curso mais uma das expriências de mudernização do encino, em que o Menistério tem cido tão prodigo. Não era o caso porque tudo isto vem desde 2001. Como foi eisplicado, havia patamares no primeiro deles, intereçava ver se os alunos comprendiam e interpetavam corretamente um teisto que lhes era fornessido. Portantos, na correção dessa parte da prova, não eram tidos em conta oserros hortográficos, os sinais gráficos e quaisqueres outros erros deportuguês excrito. Valorisando a competenssia interpetativa na primeira parte, entendiasse que uma ipotetica competenssia hortográfica seria depois avaliada, quando fosse pedido ao aluno que escrevê-se uma compozição. Aí sim, os erros hortográficos seriam, digamos, contabilisados - embora, como se sabe, os alunos não sejam penalisados: á horas pra tudo, quer o Menistério dizer; nos primeiros cinco minutos, trata-se de interpetar; nos quinze minutos finais, trata-se da hortografia.
Á, naturalmente, um prublema, que é o de comprender um teisto através de uma leitura com erros hortográficos. Nós julgáva-mos, na nossa inoçência, que escrever mal era pensar mal, interpetar mal, eisplicar mal. Abreviando e simplificando, a avaliassão entende que um aluno pode dar erros hortográficos desde que tenha perssebido o essencial do teisto que comenta (mesmo que o teisto fornessido não com tenha erros hortográficos). Numa fase posterior, pedesse-lhe "Então, criançinha, agora escreve aí um teisto sem erros hortográficos." E, emendando a mão, como já pedesse-lhe para não dar erros, a criancinha não dá erros.
A questão é saber se as pessoas (os cidadões, os eleitores, os profeçores, "a comonidade educativa") querem que os alunos saião da iscóla a produzirabundãnssia de erros hortográficos, ou seja, se os erros hortográficos não téêm importânssia nenhuma - ou se tem. Não entendo como os alunos podem amostrar "que comprenderam" um teisto, eisplicando-o sem interesar a cantidade de erros hortográficos. Em primeiro lugar porque um erro hortográfico é um erro hortográfico, e não deve de haver desculpas. Em segundo lugar, porque obrigar um profeçor a deixar passar em branco os erros hortográficos é uma injustiça e um pressedente grave, além de uma desautorizassão do trabalho que fizeram nas aulas. Depois, porque se o gabinete de avaliassão do Menistério quer saber como vão os alunos em matéria de competenssias, que trate de as avaliar com os instromentos que tem há mão sem desautorisar ou humilhar os profeçores.
Peçoalmente, comprendo a intensão. Sei que as provas de aferissão não contam para nota e hádem, mais tarde, ser modificadas. Paço a paço, a hortografia háde melhorar.

27/06/07

O teste da água natural


Nos restaurantes, gosto de observar a dinâmica das relações entre clientes e empregados, de constatar como as coisas podem correr bem ou mal, dependendo de pequenos pormenores aparentemente insignificantes. Gosto, claro, de sentir a satisfação de ver confirmadas as minhas suspeitas. Por isso, divirto-me a fazer o teste da água natural.

Basicamente, a minha teoria é a seguinte: se o empregado me trouxer uma água fresca, depois de eu lhe ter pedido uma água natural, está tudo estragado. Bem, tudo talvez seja exagero. Digamos antes que há uma enorme probabilidade de as coisas correrem menos bem. Trata-se de uma forma subtil de perceber se o empregado está realmente atento e empenhado na sua tarefa ou não. E, se não estiver, o mais provável é que o seu desempenho seja medíocre noutros aspectos.

Na semana passada, fiz este teste. A empregada trouxe-me uma água fresca, que eu aceitei sem dizer nada, mas pensando para comigo que aquilo seria apenas o início. E não me enganei. Porque depois houve uma entrada que tardou em chegar muito mais do que seria razoável e um bife que, tendo eu pedido expressamente que fosse bem passado, veio em sangue. Como se não bastasse, depois dos longos minutos em que o meu marido esperou, com o prato à frente, que viesse o bife devidamente passado, eis que se ouve o ruído de um prato a partir-se no chão: era nada menos do que o meu malfadado segundo bife. O terceiro estava duro, de tão estorricado, e depois era a conta, que nunca mais vinha. Finalmente, aquilo que mais me irrita: ter a conta na mesa e nunca mais virem buscar o cartão para podermos pagar.

Concluí que é imenso o poder da minha mente: se eu meter na cabeça que as coisas vão correr mal, correm mesmo!!

26/06/07

O miúdo desatou aos berros. Queria mais mama, ‘tava-se mesmo a ver.

- ‘Tava a ver que não! – pensou para os seus botões. O puto tinha dormido mais que muito e a doutora tinha-lhe dito para ela não o deixar sem comer mais do que cinco horas.

- ‘Pera aí, qu’eu já t’ atendo! – rosnou.

O homem dela ressonava que nem um porco. ‘Tá bem que tinha ‘tado a bulir até às tantas, mas podia ao menos abrir a pestana, só naquela de mostrar que não era surdo. Afinal, ‘tava acordado de certezinha. Numa de confirmar, ela deu-lhe um encontrão quando ia a sair da cama, mas ele não se deu por achado.

Pegou no miúdo, que continuava na choradeira, e foi dar-lhe mama. Abancou na sala com ele ao colo e pôs-se a ver televisão. Só que tudo o que ‘tava a dar nos canais todos era uma ganda seca e não tardou nada até que ela começou a partir choco. Quando acordou, tinha a mama de fora e o puto tinha-se evaporado.

Levantou-se e chinelou até à cozinha. O marido ‘tava com o miúdo ao colo e tinha feito um pequeno-almoço à maneira para os dois, com ovos estalados e tudo.

- Boas.

Gostava de ter dito outra cena mais fixe, mas foi aquilo que lhe saiu. Ainda poir cima o homem tinha-se dado ao trabalho de fazer café a sério, sem ser ‘estantânio.

- Já ‘tás com larica, não? – perguntou ele.

Ela abraçou-se a ele com força e bichanou-lhe ao ouvido:

- És um tipo porreiro!

20/06/07

Info-excluídos

Antes de mais, uma advertência sobre o uso desta palavra: sei que o Ciberdúvidas propõe inforexcluídos, mas eu acho que o “r” ali no meio não vai vingar. Ao contrário do que afirma J.N.H. (a propósito do termo “inforexclusão”), não creio que haja qualquer hiato em info-exclusão, dado que o “e” de “exclusão” não se pronuncia).


Mas vamos ao que me fez escrever hoje: tenho ouvido contar casos de professores(as) que prejudicam os seus alunos do ensino básico por realizarem trabalhos em casa que não se apoiam em pesquisas na Internet. Ou seja, mesmo quando o aluno em questão se preocupa em documentar-se com base em livros impressos, a sua classificação no trabalho é inferior (ao que seria justo, alvitro eu), pelo simples facto de a pesquisa não ter sido “virtual”.

Justificar-se-ão os professores com base na ideia de que um dos objectivos é que os alunos demonstrem capacidade para utilizar as novas tecnologias de informação. Ora, se não estou em erro, o Governo tem defendido uma política de combate à info-exclusão, alegando que procura criar condições para que a população em geral, e os alunos do ensino público em particular, tenham acesso às novas tecnologias.

No entanto, preterir ou desvalorizar a pesquisa bibliográfica, valorizando a pesquisa web é, a meu ver, um procedimento condenável por parte dos professores. Não apenas porque a informação obtida através de fontes bibliográficas é tão (ou mais, em muitos casos) válida do que a informação (muitas vezes anónima e levianamente) disponibilizada na Net. Mas também porque não é assim que se defende quem não tem computador ou Internet em casa, não é assim que se combate a info-exclusão. Pelo contrário, é assim que o Estado, ao compactuar com este tipo de objectivos de avaliação, prejudica ainda mais os info-excluídos.

10/06/07

Difícil de engolir

Ontem, ao aproximar-me do quarto dela para ver se já estava a dormir, fui surpreendida pelo seu choro sentido, apesar de quase silencioso. Perguntei-lhe de imediato o que se passava, não imaginando a razão daquela tristeza repentina, que, se bem me lembro, só tinha acontecido uma vez, há muito tempo.

Então ela explicou-me que queria ser filha do tio (com quem havia estado ao almoço, e que adora), que também tinha saudades da avó (com quem também tinha estado durante o dia) e que gostava de ser irmã da prima (com quem também estivera e que tem apenas um ano).

Não é a primeira vez que ela me diz que gostava de ser filha daquele tio, deixando-me completamente desarmada, impotente perante aquela espécie de melancolia profunda por não ter tido outra sorte, apesar de reconhecer a sorte que tem. Não sabe, naturalmente, explicar a adoração, o amor incrível que sente por aquele tio único, do lado do pai. Só sabe que o adora, e que por vezes essa paixão a leva às lágrimas, quando toma consciência de que não pode viver em casa do tio, muito menos ser filha dele.

E eu, que nada posso fazer e pouco posso dizer, que me limitei a abraçá-la e a tentar embalá-la no sono, com beijos carinhosos e poucas palavras, pergunto-me: haverá muitas outras crianças com este tipo de problema existencial? E o que lhes dizem os pais, para além do óbvio? E como se sentem eles, nesses momentos em que os filhos parecem dizer-lhes que não são o ideal, que deveriam ter sido outros?

Baleia dentro de água



Entrei dentro de água a custo, parecia gelada. Ao fim de uns longos minutos, porém, o corpo foi-se habituando e cheguei finalmente a um ponto em que já nem me apetecia sair. Cá fora levantou-se um ventinho, as nuvens taparam o sol e a água acabou por me parecer morna.

Fiz uns exercícios com as pernas e os braços, frequentando uma aula imaginária de hidro-ginástica, e fui-me tornando cada vez mais consciente do prazer de me sentir assim leve, de me movimentar de forma tão fácil e até graciosa, como se fosse uma bailarina.

Quando, mais tarde, saí da água, nem queria acreditar no meu peso real, com os dez quilos a mais que a gravidez generosamente me emprestou. Que desilusão. Apeteceu-me voltar logo para dentro de água e ficar... ficar... até ao dia do parto!