26/06/07

O miúdo desatou aos berros. Queria mais mama, ‘tava-se mesmo a ver.

- ‘Tava a ver que não! – pensou para os seus botões. O puto tinha dormido mais que muito e a doutora tinha-lhe dito para ela não o deixar sem comer mais do que cinco horas.

- ‘Pera aí, qu’eu já t’ atendo! – rosnou.

O homem dela ressonava que nem um porco. ‘Tá bem que tinha ‘tado a bulir até às tantas, mas podia ao menos abrir a pestana, só naquela de mostrar que não era surdo. Afinal, ‘tava acordado de certezinha. Numa de confirmar, ela deu-lhe um encontrão quando ia a sair da cama, mas ele não se deu por achado.

Pegou no miúdo, que continuava na choradeira, e foi dar-lhe mama. Abancou na sala com ele ao colo e pôs-se a ver televisão. Só que tudo o que ‘tava a dar nos canais todos era uma ganda seca e não tardou nada até que ela começou a partir choco. Quando acordou, tinha a mama de fora e o puto tinha-se evaporado.

Levantou-se e chinelou até à cozinha. O marido ‘tava com o miúdo ao colo e tinha feito um pequeno-almoço à maneira para os dois, com ovos estalados e tudo.

- Boas.

Gostava de ter dito outra cena mais fixe, mas foi aquilo que lhe saiu. Ainda poir cima o homem tinha-se dado ao trabalho de fazer café a sério, sem ser ‘estantânio.

- Já ‘tás com larica, não? – perguntou ele.

Ela abraçou-se a ele com força e bichanou-lhe ao ouvido:

- És um tipo porreiro!

2 comentários:

Alecrim disse...

Tou a ver a cena!...

Anónimo disse...

Devaneio ou realidade?
(silêncio, sombras, saudade)