A casa de Cramarinhos transborda de mistério e magia.
Quando subo a estrada de terra batida, pelo monte que a esconde lá no alto, sinto sempre a mesma excitação de quando era menina, sobretudo se fizer a viagem de noite.
A perspectiva de encontrar um rato ou um morcego ao entrar em casa não me assusta nem me repugna. Pelo contrário, acho divertido cruzar-me com os inquilinos mais assíduos e sortudos: os que nunca precisam de vir embora de lá e que conhecem os cantos e recantos melhor do que ninguém.
O sossego, dia e noite, é total. A envolvência não podia ser mais idílica, se não fosse a casa referida num “post” anterior, que felizmente só se vê das traseiras.
Lá dentro, as paredes de granito, os livros antigos, as janelas de guilhotina, a velha mesa de bilhar, a adega atrás da insólita grade, que eu gostava de fingir que era uma cela de prisão, os misteriosos quartos das criadas, votados ao abandono, onde eu tinha receio de entrar, os armários embutidos nas paredes, dentro dos quais só se descobriam objectos estranhos e aparentemente inúteis, as portas que davam para passagens que pareciam secretas, tudo me encantava. E encanta ainda.
O mais interessante, porém, é a sua história. Estando na mesma família desde o início do século XIX, foi literalmente “desmontada”, como se fosse uma casinha de lego, em 1954, e transportada, em carros de bois, para o cimo do monte. Isto porque ficara subitamente encafuada, na vila, quase debaixo de uma estrada que foi construída nessa altura.
Felizmente, o dono tinha meios para levar a cabo esse capricho: tirá-la do lugar onde estava e pô-la num sítio mais bonito, longe do alcatrão e dos carros. A obra durou até 1960. E graças a ela, a casa conserva o seu sortilégio, num lugar que faz justiça à sua beleza natural.
14 comentários:
é incrível a história de trasladação da casa. muito bonita.
A casa é linda! Parece um pequeno solar. E a área envolvente parece calma e muito verde. Vocês são uns sortudos!
Falta dizer que o caseiro, enquanto a casa não esteve pronta, lá no alto do monte, ficava de guarda às pedras todas as noites, para que ninguém lá entrasse. Deve ter sofrido frio, fome, solidão e tédio inimagináveis. E ainda hoje é vivo!
bem! ou descobriu uma fonte da juventude no meio do bosque ou confirma-se que o trabalho dá saúde!
Não há comparação possível entre uma bela vivenda moderna e uma casa solarenga com história. Mesmo que essa história passe por uma reconstrução pedra a pedra noutro local.
Há algo indescritível, uma energia oculta e indefinida, o tal sortilégio de que fala a autora. O granito confere-lhe uma sensação de perenidade, uma evocação do passado, uma promessa de futuro.
Que seca! Coitado do homem. Espero que tenha recebido uma recompensa choruda depois de tão demorada vigília... ; ) E se não descobriu uma fonte da juventude enquanto vigiava, ainda vai a tempo de dar um pé de conversa com o mister Copperfield : )
Hihi! ;D
Publiquem mais fotos desta bela casa. é uma mais valia para as pessoas ficarém a conhecer esta bela casa por dentro e por fora
Olá, Abel. Posso perguntar-lhe com quem lá foi?
Olá bom dia tikka,sim mora a poucos metros desta quinta,e por essa razão é que dei a minha opinião sobre as fotos, e adoro este tipo de quintas para fins de semana.
Ah...! Mas, sabe, penso que não é muito prudente publicar fotografias do interior, ou de pormenores que os "olhos errados" possam aproveitar sabe-se lá com que fins, entende? É por isso que as fotos que aqui ponho não apresentam a casa em detalhe.
Olá tikka masala.
Na década de 50 do século passado os seus antecessores transladaram a sua maravilhosa casa à custa do suor e sangue dos pobres das terras que tiravam o chapéu à passagem do Sr. Comandante. O monte onde se encontra a seu refúgio das multidões do povo simples português ainda pode subir mais a encosta. Agora já seria com maquinaria pesada e teria que pagar a um empreiteiro, contratar uma empresa de segurança nocturna e pedir autorização à Câmara Municipal de Fafe.
Mas assim ficaria longe da casa que é um “post”, mas que foi construída com a dignidade do trabalho e em terrenos de família. Não foi herdade de mão beijada como a sua.
Já agora poderia fazer um arranjo à casa do seu caseiro que foi o tal que teve a guardar as suas pedras durante a noite e bem merecia no final da sua vida mais conforto.
O tempo dos senhores da cidade e das gentes da aldeia já lá vai. Pelo menos aqui no Norte.
Calma, ilustres defensores do povo nortenho! Eu não disse que se tratara de um capricho? E tenho culpa disso? O texto reflecte uma experiência pessoal da casa e conta uma simples curiosidade sobre ela. A defesa dos pobres trabalhadores que por ela gastaram o seu suor e sangue não é para aqui chamada, por mais legítima que seja. E não, não posso fazer nada do que sugere, porque a casa não é minha.
Boa tarde tikka masala,entendo é cada vez mais dificil, e o seguro morreu de velho OK
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