Por qualquer razão estranha, as pessoas tendem a pensar que se poderão tornar melhores de um ano para o outro (ou melhor, de um momento para o outro), só porque começa um ano fresquinho, novinho em folha, acabadinho de sair da grande máquina do tempo.
Chegam ao fim do ano que está quase a expirar e apercebem-se de que não deram o seu melhor: nem à família, nem aos amigos, nem a si próprias. Cada ano novo é uma nova oportunidade que a vida lhes dá de tentarem mais uma vez. Fazerem resoluções de ano novo é consciencializarem-se (mentalmente ou por escrito) de que há n coisas que precisam de melhorar em si.
Pessoalmente, devo confessar que me sinto tentada a fazer isso, em todos os finais de ano. Não me faltam pontos fracos que tenho a certeza de que podem ser “trabalhados”, com esforço e paciência. Não quer dizer que não me lembre de todas essas coisas durante o resto do ano, mas há qualquer coisa de especial e solene no “reveillon”, que me leva a querer perspectivar as coisas com maior rigor e seriedade, que me leva a fazer promessas (que depois, invariavelmente, não cumpro).
Claro que não faz sentido nenhum fazer anualmente promessas que não tenciono cumprir (sobretudo porque ninguém me obriga a fazê-las!), mas isso não me faz parar de seguir esse estranho ritual de auto-engano. Faço-o porque algo me impele a isso, talvez para encontrar alguma paz de espírito durante a festa de Ano Novo. É bom acreditar que podemos ser melhores, fazer os outros mais felizes. Nem que seja apenas durante umas breves horas de euforia e optimismo.
Este ano, porém, não consigo verbalizar banalidades como "estar mais com os amigos" ou "dar mais atenção à família" sem pensar que estou a ser hipócrita, por saber de antemão que tudo vai continuar como antes. Em vez disso, talvez seja melhor fazer uma resolução deste tipo: "ser mais honesta comigo própria." E, assim sendo, não fazer mais nenhuma resolução.
(Nota: escrevi este texto a 31.12.2004 e nunca cheguei a publicá-lo no blog que tinha na altura).