No blogue Controversa Maresia, li um texto interessante sobre “as outras mães”: mães supostamente perfeitas, que não se esquecem de nada do que é importante na vida dos filhos, que são organizadas e que fazem tudo da melhor maneira para eles. Peço-vos que vão lá ler o texto e só depois leiam o meu.
Pois eu não gostava de ser como essas mães. Apesar de não ser raro envergonhar-me de ser assim distraída e algo desorganizada, de já ter, mais do que uma vez, chegado ao cúmulo de ir pôr a minha filha ao infantário num dia em que era suposto saber que estava fechado, não tenho inveja das mães que não falham, que nunca se atrasam a deixar os filhos na escola e que não acordam mal dispostas.
E mais: acho que a pessoa que escreveu o texto deve ser melhor mãe do que essas que elogia, que têm paciência para os aniversários dos amiguinhos e encetam conversas típicas de mães, enquanto as crianças “jogam à bola, apagam velinhas e comem gomas”.
Eu gosto que haja um pouco de caos na nossa vida familiar, não para que os meus filhos cresçam num ambiente desequilibrado, mas para que saibam que a vida tem dias bons e maus, que as pessoas têm atitudes parvas, dizem coisas incongruentes e arrependem-se frequentemente do que fizeram mal ou deixaram de fazer.
Eu acho bonito chorar com a minha filha, quando as duas nos apercebemos de que nenhuma de nós tinha razão. Acho engraçado que ela me apanhe descalça na casa-de-banho e me diga, sorrindo: “olha o exemplo, mãe!”. Acho normal que ela me questione sobre comportamentos desadequados, que me confronte com o meu “faz o que eu digo, não faças o que eu faço". Acho pacífico que ambas conversemos sobre o porquê de certas regras de etiqueta e que saibamos quebrá-las, apenas na intimidade alegre de um momento mais solto. Acho saudável, de vez em quando, brincar com ela na cama até estarmos as duas às gargalhadas, e depois contar-lhe duas histórias, quando já passa da hora de dormir.
Eu gosto de não ser perfeita. Parece-me importante que os meus filhos compreendam os meus limites e imperfeições, que me apanhem em falta e que me obriguem a justificar-me. E, tal como a eles nem sempre lhes apetece estar comigo, também acho natural que eles saibam que gosto de passar algum tempo sem eles. Porque à satisfação de passarmos momentos com amigos, longe uns dos outros, segue-se a alegria do reencontro, em que contamos mutuamente o que fizemos e como nos sentimos.
É claro que me repreendo cada vez que chego à previsível conclusão de que não lhes devia dar aperitivos antes do jantar, é óbvio que procuro que se deitem a horas razoáveis, que faço um esforço por lhes dar banho todos os dias, embora nem sempre consiga. Mas, mesmo quando visto a mesma roupa à Mecas no dia seguinte, mesmo quando ela se vê obrigada a perdoar-me por me ter esquecido de a ir buscar à hora que pediu, mesmo quando me entristeço por lhe ter gritado quando não era necessário, não deixo de ter a certeza de que sou uma boa mãe.
Afinal, não interessa se temos ou não fotografias deles na carteira, para exibir aos outros. O mais importante é termo-los bem abraçados dentro do nosso coração.
4 comentários:
"Afinal, não interessa se temos ou não fotografias deles na carteira, para exibir aos outros. O mais importante é termo-los bem abraçados dentro do nosso coração."
Assino por baixo, salvaguardados que estão, claro, os direitos da autora. Eu não escreveria melhor, por muito que tentasse...
Bjs
Um brinde bem grande e estrondoso à tua humanidade - que é um dos legados mais importantes que podes transmitir aos teus filhos! :-)
E eu achei lindo o que escreveste!! parece-me que és uma dessas mães!!! Basta dar maior valor ao abraço sincero!! ;o)
Faltam-me as palavras, depois de ler este texto. Simplesmente maravilhoso. A beleza das palavras revelam mesmo o que vai no teu coração.
Sou uma leitora quase sempre silenciosa, mas desta vez fui obrigada a quebrar o silêncio, perante tal obra de arte.
SandraD.
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