Se interessa para alguma coisa escrever e manter um diário virtual, esse interesse reside na possibilidade de ter quem responda e reaja às nossas confissões. Por isso, desde já agradeço todos os comentários!
10/01/07
O LUGAR QUE AS COISAS ESCOLHEM
Há objectos cá em casa que a tornam única.
Não são os móveis nem os bibelots, nem mesmo os quadros que enfeitam as paredes.
Não são as nossas coisinhas pessoais, que afinal poderiam ser de qualquer outra pessoa, noutra casa.
Nem sequer são propriamente os objectos em si, mas os lugares onde eles aparecem: é a insólita combinação entre a coisa e o sítio onde está. É isso que me divirto a observar na minha própria casa e às vezes nas dos outros.
Na casa-de-banho, ao lado do lavatório, repousam permanentemente a saia e as cuecas da Anita. Sempre que decido vesti-la e arrumá-la, a Mecas volta a decidir dar-lhe banho e as roupinhas lá ficam, no lugar onde me fazem sorrir.
No nosso quarto, um pouff e uma cadeira estrategicamente posicionados entre a cama e a parede, num ângulo improvável, com o objectivo permanente de impedir o cão de se deitar debaixo do cortinado e de o sujar em consequência disso.
No escritório, uma caixa de tupperware de dono desconhecido, que veio cá parar a casa porque alguém pensou que era nossa. Mora provisoriamente em cima da secretária, enquanto não encontra o seu verdadeiro lar.
Na sala, um retrato a pastel de um São Bernardo, ou outro trabalho qualquer, que vai sendo feito aos poucos e por ali fica durante alguns dias.
Na mesa da cozinha, jogos, livros infantis ou bonecos, ou ainda adereços de bonecos, que ali permanecem porque estão constantemente a ser requisitados como distracção, antes e durante as refeições. Dentro da cristaleira, argolas de guardanapo que se partiram e nunca serão coladas, bonequinhos da árvore de Natal com um braço por soldar. No cestinho das cebolas e dos alhos, a caixa de comprimidos para a próstata que o cão toma diariamente.
Ocorre-me que o lugar que as coisas escolhem - ou que parecem escolher - é aquilo que torna a casa mais nossa. É aquilo que fala de nós, no espaço em que vivemos.
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6 comentários:
Gostei muito deste post. Obrigada pela viagem guiada aos recantos insólitos e estranhos da tua moradia. Tens razão: são esses pequenos detalhes que a tornam pessoal, a tua casa e não a minha. Gostei particularmente do detalhe do posicionamento estratégico do pouff e da cadeira : ) Resulta mesmo?
Vou para casa não tarda nada e vou daqui inspirada para notar esses pequenos detalhes inconguentes e sui generis na minha casa.
A minha casa é cheia de coisas insólitas. E também eu.
Muito bem observado, como de costume. E eu que o diga. Porque perdi a conta ao número de vezes em que mudei de casa.
Adorei o seu olhar.
na verdade, cda casa e um caso único e de cada um que lá vive.
Para que é que servem os bibelots? Só atrapalham na altura de limpar o pó.
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
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