01/11/06

Minha querida filha,

Não estás longe, mas a pureza alegre dos teus olhos, que me faz sentir tão realizada, é de uma beleza tão intensa, que não te consigo dizer o que penso. Embora saiba que talvez me compreendesses...
Olho para ti, a rir, e tenho medo. Tu és ainda tão frágil - (somos todos, eu sei!) - e tão jovem, que me pergunto se poderás ser sempre assim feliz como hoje.
O nosso velho planeta está cada vez mais frágil, não sei por quanto tempo ainda poderá ser a nossa casa. Lembro-me de pensar, quando ainda tinha menos de dez anos, que havia muitas pessoas a fazer mal ao ambiente e que, se não parassem de matar animais e plantas e de poluir o ar, a água e a terra, o mundo iria transformar-se num lugar sujo, nu, feio e perigoso.
Passaram mais de vinte anos e as ameaças ao planeta são cada vez mais sérias, os danos claramente irreversíveis. Pergunto-me se daqui a 50 anos, quando eu for muito velha e tu tiveres filhos adultos, teremos alguma qualidade de vida ou andaremos todos de máscara, por causa da poluição, vestidos da cabeça aos pés, por causa das radiações, e desidratados, por causa da falta de água, sobrevivendo a custo, esquecidos há muito do que é rir assim, como tu ris hoje.
Pergunto-me se terei feito bem em trazer-te ao mundo.
Mas, sabes, fazes-me tão feliz, e sinto-te tão feliz, que este tempo que passamos juntas agora, estes abraços que me dás e essas gargalhadas com que me animas já valem a pena. Venha o que vier, o presente contigo é o maior presente que poderíamos dar uma à outra, a melhor recordação a que poderíamos precisar de recorrer, no futuro. Valha-nos isso.
Adoro-te muito.

3 comentários:

Vida de Praia disse...

Que declaração de amor maravilhosa! Não és só tu que és uma sortuda, a tua filha também : )
Estou convencida de que o nosso planeta tem o dom de se ir regenerando, senão já tinha ido de mal para pior há muito tempo com tudo a que o temos sujeitado. Por isso creio que há esperança.

Anónimo disse...

Que inveja eu tenho...

Anónimo disse...

Lido no meu dia-a-dia com palavras, mas poucas há que deixam alguma marca na alma e coração. Estas que acabei de ler tocaram-me profundamente. Texto Exímio.
(n.b. não escrevo mais comentários acerca dos teus outros textos, porque seriam tão repetitivos... Exímio. Comovente. Profundo. Perfeito.)