03/11/06

APETECIA-ME ALGO...





Não, esta frase artificial daquela senhora italiana muito sofisticada, que é viciada em chocolates, não significa que vou falar da respectiva marca, ou do anúncio.

Na verdade, serve apenas de mote ao tema dos supostos “desejos” das grávidas, em que eu nunca acreditei.

A paradigmática ida do marido, a meio da noite, a uma loja de conveniência comprar uma melancia, salmão fumado, uma lata de esparguete à bolonhesa (ou bombons Ferrero Rocher!), porque a mulher, grávida, está com uma vontade incontrolável de comer uma coisa que não lembraria ao diabo não me convence!

Ou melhor: acho que as pessoas que não estão grávidas sentem desejos improváveis com a mesma frequência que as grávidas – a única diferença é que não lhes passa pela cabeça pedir ao respectivo cônjuge que os satisfaçam!

A sorte das grávidas é gozarem de um estatuto que lhes permite esperar que seja feita a sua vontade. E eu, se voltar a engravidar, faço tenção de usufruir ao máximo desse privilégio. Não para me alambazar com arenque fumado a meio da noite, nem para fazer o meu marido andar pela cidade à procura de cogumelos frescos a horas imorais, ou para ter o prazer guloso de comer uma dúzia de mangas fora da época, mas para ir fazer um belo cruzeiro de duas semanas, para fazer uma viagem a um país exótico, ou para mudar para uma casa maior num sítio melhor, simplesmente porque de repente se tornou insuportável viver aqui... :)

8 comentários:

Vida de Praia disse...

He he, também não acredito muito nos desejos exóticos das grávidas, porque até hoje raros são os casos que conheci. Em contrapartida, deixaste-me com vontade de comer morangos bem madurinhos fora de época e nem sequer estou grávida ; )
Se realmente voltares a engravidar, espero que aproveites ao máximo o alibi para realizar todos os teus desejos de longa data : )

Anónimo disse...

Afinal estar grávida não parece ser assim tão mau. Será por isso que alguns homens(?) tentam insistentemente ser "fecundados"?

Anónimo disse...

Os desejos das grávidas eram reais (e devem continuar a sê-lo aí em muita parte do mundo) e correspondiam a carências efectivas da mulher. Alguém se lembra das histórias das mulheres que tinham desejos de comer a cal das paredes? Falta de cálcio, muito simplesmente! Também por isso sempre se disse que as gravidezes estragam os dentes da mulher, o que já não acontece actualmente (por cá, claro!).
Porque é que hoje não temos desejos durante a gravidez? Porque vivemos numa sociedade que nos permite estar bem alimentadas; porque tomamos mil e quinhentos suplementos de cálcio, ferro, etc, para suprir as nossas necessidades e as do feto. Por isso, hoje em dia os desejos da gravidez não passam de um mito ou, conforme sugerido, de um estratagema para conseguir pôr a cara-metade a fazer alguns sacrifícios por nós.
O que não quer dizer que não sejam, ou não tenham sido, reais em outros contextos socio-económicos.

tikka masala disse...

Muito interessante e enriquecedora esta contribuição.Obrigada!

Anónimo disse...

Belíssimos desejos!!!
Lol
Podes tb desjar ardentemente a minha companhia nessa viagem... ;)

Anónimo disse...

Agora é a sério.
Ainda há quem diga mal dos tempos modernos. Durante a minha meninice e juventude (já lá vão 50 anos), e quase até ao 25 de Abril de 74, viam-se poucas grávidas pelas ruas.
Porque as senhoras (as mulheres do campo que eram obrigadas a trabalhar não se podiam dar ao luxo de ficarem em casa)escondiam-se até aparecerem, gloriosas, com um recém nascido nos braços ou no carrinho de bebé. Tudo por preconceitos morais e religiosos. Porque a gravidez era a consequência de terem feito "aquilo" que toda a gente sabe. As dores do parto eram até uma espécie de punição divina por causa do "tal" pecado original.
Foi até posto termo ao culto da Senhora do Ó, que era a virgem Maria grávida. As imagens foram retiradas das igrejas e queimadas. Apenas sobreviveram umas quantas em pedra...
Mas hoje tudo é diferente. As mulheres, e bem, exibem orgulhosamente os seus "balões", passe a ironia.

tikka masala disse...

E a propósito do banimento desse culto, veja a sorte dos meus pais: hoje têm numa casa antiga uma cantaria da Igreja de Nossa Senhora do O, que fica ali perto, porque o padre, na época (?), se quis livrar dela e a substituiu por uma mais moderna. Ainda hoje conseguimos ler, apesar de ter sido severamente picada, a inscrição: "esta e a casa de nsa sra do o".

rascunhos disse...

Em tempos passei de relance por uma crónica sobre grávidas, onde alguém dizia qq coisa do género, acerca dos enjoos das grávidas.O autor referia-se aos mesmos como sendo uma espécie de fastio aos maridos ( pasme-se) e o instinto ancestral de protecção do feto.

Pessoalmente da 1ª vez só enjoei o frango de churrasco, mas juro que o Livro de Crónicas do António Lobo Antunes não contribui para isso ("Chopin é um frango" leva-me até hoje às lágrimas de tanto rir).
Da 2ª vez, passei a apreciar e ainda bem,comer peixe de todas as maneiras e feitios, hábito saudável que mantenho até hoje.

Quanto ao "apetece-me algo" há tb uma espécie de chamada de atenção, um apelo à sensibilidade do estado maravilhoso da maternidade...