Esta semana encontrei-me quatro vezes, durante um total de 8 horas, com uma aluna que reprovei numa das disciplinas que lecciono. Eu tinha-me disponibilizado para ajudar quem quisesse estudar durante as férias para fazer exame em Setembro. Ela foi a única pessoa que resolveu aproveitar a minha oferta. Mantivemo-nos em contacto durante as férias e eu enviei-lhe alguns exercícios e corrigi as respostas que ela me mandou por email.
Esta semana, trabalhámos em regime de “explicações”. Revimos a matéria, dei-lhe mais exercícios, vimos as respostas juntas e até lhe fiz um exame de simulação, hoje, no qual ela teve nota negativa. Ficou desiludida, como é natural. Eu, confesso, já estava à espera desse resultado.
O que é que está a falhar?
A história repete-se e torna-se cansativa, ainda que o problema continue a ser sério de mais para que eu possa simplesmente encolher os ombros e dizer que a culpa não é minha. Ao fim de bastante esforço e treino, há muita gente que, como ela, pura e simplesmente não cumpre os objectivos. Escreve pessimamente e nem sabe porquê. Comete erros e não consegue identificá-los. Tem dificuldade em exprimir-se. Não consegue reformular uma ideia por palavras próprias. E por aí fora.
Motivos? Péssimas bases, anos e anos sem ler, falta de acompanhamento, falta de motivação para se auto-aperfeiçoarem, demasiadas distracções que só servem para agravar as lacunas, eu sei lá...
Por mais pena que eu tenha, não vejo como posso ajudar mais esta e outras pessoas na mesma situação. Espanta-me que acabem o primeiro ano do curso apenas com nota negativa na minha disciplina (por vezes também a Matemática). Se não sabem explicar um conceito, expor um ponto de vista, construir um texto!...
Não sei o que fazer. E o exame está aí à porta: caras de gente esperançada, nervosa. Sorrirem-me e declaram que se fartaram de estudar nas férias. Alguns dizem que o exame lhes correu bem, quando saem. Mas em muitos casos olho para as respostas e vejo logo três ou quatro erros que teriam sido corrigidos por eles, se tivessem feito uma leitura atenta do que escreveram antes de entregar o exame. Depois constato que não estudaram, que se limitaram a tentar decorar matéria mais uma vez, sem a compreenderem. Ou, pior, que fizeram um esforço para compreender, mas não conseguiram.Não imaginam o que isto tudo me incomoda, me transtorna, me dói.
8 comentários:
Pois... Com oito horas não se resolve um problema que levou anos a formar-se.
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
Deve ser frustrante mesmo. Mas acho que o Jaime tem razão e que a culpa não é realmente tua, mas de anos e anos de ensino em que ninguém se apercebeu que a pessoa mal sabe ler, escrever, exprimir-se ou pensar independentemente ou mesmo até racionalmente.
É o que eu digo: se lhes dessem logo o teste de o que fazer às beatas e às impressoras avariadas, havia muito boa gente que não passava ao ensino superior e evitavam-se este tipo de situações frustrantes para o professor conscencioso.
Ooops... e se eu tivesse lido atentamente o que escrevi, não teria deixado passar a última gralha: era "consciencioso" que eu queria dizer... ; )
Ainda bem que a Tikka tenta ajudar os alunos. Boa professora. :-)
O problema dessa aluna é o de muitos. Nunca deveria ter entrado na faculdade.
A culpa pode não ser dela, pode ser do sistema, mas vai dar ao mesmo.
Se não tem bases, terá que voltar ao secundário. Ou ao primário?
Já sabes que a minha religião não me permite falar de escola, nem de alunos, nem de professores...
:))
Só não quero que estejas infeliz com coisas que vão para além da tua capacidade de acção.
Abraço caloroso.
(Vem outra vez almoçar comigo, passear e... deixa lá o comprimido!! lol)
Obrigada a todos. Um abraço a todos!
Para alguns, ensinar é uma missão; para muitos, aprender é um frete!
O pior é que nem sempre ensina quem diz ensinar nem estuda quem se diz estudante... Eis o segredo do falhanço!
Tenha paciência e muita força de vontade.
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