Há defeitos que se toleram nas pessoas. Sobretudo nas pessoas de quem se gosta e com quem se convive. Uns são mais difíceis de tolerar do que outros, claro. Espremer a pasta de dentes pelo meio, por exemplo, mal pode ser considerado um defeito, embora possa estar na base de alguns divórcios. Isto porque umas pessoas toleram muito melhor os defeitos alheios do que outras. Mesmo aqueles que são mais difíceis de aturar, como a tendência para dizer coisas.
Eu tenho uma forte e irritante tendência para dizer coisas, para falar só por falar. Até parece que o silêncio me incomoda, o que nem sequer é verdade. Não sei porque faço isso, tendo em conta que eu própria me apercebo de como sou chata, tendo em conta que me farto de me ouvir a mim própria!
Até podia dizer que o problema é genético e que a culpa é da minha mãe. Mas a partir do momento em que tenho consciência dele, não há desculpa para não tentar evitar esse comportamento. Porque, afinal, é apenas um comportamento e não uma mancha na pele.
Ontem massacrei o meu marido, durante a viagem para a praia, com esse habitual blá-blá.blá, a propósito de tudo em geral e de nada de especial. Fiz afirmações como se fossem grandes verdades que logo em seguida tive de admitir serem falsas. Disse disparates que não tiveram piada. Fiz comentários que já perderam a sua pertinência por terem sido repetidos até à exaustão. Preenchi o ar com palavras vãs e desnecessárias.
Quando ele me chamou a atenção para isso (ou fui eu que me lamentei por ser assim?), fiquei tão envergonhada, que me calei de repente. Depois, ele fez-me uma pergunta e eu não respondi, não por estar amuada, mas por me sentir tão ridícula por tudo o que havia dito, que só o silêncio absoluto parecia ser suficiente para me redimir.
«Também não é preciso exagerares!» – Comentou ele. Claro. O meu problema vai ser, precisamente, distinguir o que vale a pena dizer e o que não vale.
7 comentários:
Vantagens e desvantagens... aposto que à tua volta nunca há silêncios constrangedores que é das piores coisas para muita gente : ) E também não precisam de acender a televisão ou por música de fundo lá em casa ; )
Sabe-se lá à partida o que vale ou não vale a pena dizer - o juízo é do que ouve o blá blá blá.
Se eu tivesse esse teu dom falaria mais ao telefone, o que abomino por me constranger o dom da fala.
Curioso... eu detesto falar ao telefone! Porque será?
Às vezes quando os outros pensam que estou amuada, não estou. Apenas preciso de um tempo para digerir as minhas difíceis emoções, ou o divórcio entre a emoção e a razão. Por exemplo: diz-me a razão que a outra pessoa tem razão e que devo passar à frente e não ficar triste. Diz-me a emoção que estou triste.
Faz-te sentido, isto?
Então só te dá para a conversa ao vivo, entre 4 olhos, ou melhor, ouvidos? Interessante.
Para mim falar ao telefone é um daqueles males que evito a todo o custo. Dá-me para os ôôôô e os aaaaa, talvez por me fazer falta poder ver a expressão da pessoa do outro lado, não sei bem. Também te acontece isso?
Dulce, entendo o que dizes. Sinto exactamente isso. Alma gémea! Vida de Praia, mais ou menos. Não sei bem... :S
Tikka Masala, imagine o tédio que era uma tarde de Verão, bem quente, sem o som constante das cigarras... Elas alegram os campos, mesmo quando todos buscam sombra, silêncio e tranquilidade. Mas elas dizem: «Estamos aqui»... e não as vemos, confundem-nos quando julgamos que estamos junto a uma, outra, mais longe, canta.
As "cigarras humanas" lembram-nos que o silêncio é o fim de tudo, que para lá dos gases que envolvem este planeta que habitamos só existe o silêncio absoluto.
Vivam a "cigarras humanas" que nos recordam a nossa própria humanidade e nos lembram que, como seres ciderais somos silêncio.
Fale, deixe correr o seu blá-blá, são bocadinhos de si que quebram o silêncio do imenso universo que há em cada um de nós.
Vivam as cigarras!
P. S. Desculpe, mas tenho acompanhado o seu blog e tenho gostado; nos meus sou mais circunspecto («Fio de Prumo» e «Desblogueando»), mas, por norma, ao vivo, sou um terrível falador!
A maldia «gralha» lá tinha de saltar de galho! Sideral escreve-se com s e não com c.
Só dá fifias quem canta... Os «calados» nunca se enganam... julgam eles!
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