12/12/07

SER ADULTA

Nunca vos aconteceu questionarem-se, num assomo de lucidez, sobre a essência de SER ADULTO? O que é que nos torna adultos e, sobretudo, QUANDO nos tornamos adultos? É de um momento para o outro, na data exacta em que supostamente acaba a nossa adolescência - digamos, no dia em que fazemos 18 anos? Ou será num dia impossível de prever, em que nos acontece uma experiência digna de nos amadurecer num só momento? Ou será um processo gradual, entre o dia x e o dia y da nossa vida? E quando isso acontece, o que nos define como adultos?


Eu, que até tenho muito que fazer, mas que aproveito todo o tempo possível para pensar (antes de adormecer, enquanto passeio o cão ou dou de mamar, durante os minutos em que estendo a roupa ou as horas em que cozinho... enfim!), penso nisso de vez em quando e, até agora, não cheguei a uma resposta satisfatória. No entanto, cheguei a algumas conclusões, que aqui partilho convosco, quanto aos aspectos da minha existência que, mais claramente, indicam que já lá cheguei.


Concluí que sou adulta porque:

a) Deixei de querer fazer anos

b) Sinto que não devia sair à rua sem me maquilhar

c) Já não tomo conta de crianças apenas quando alguém me paga para isso, ou quando me apetece

d) Tenho vergonha de ser observada por adultos quando estou a tentar brincar

e) Chego à conclusão de que já não sei brincar

f) Descubro que já não corro há anos

g) Fico a arfar, cada vez que corro durante alguns segundos

h) Há partes do meu corpo que abanam violentamente quando corro, e que me fazem ter consciência de que não devo correr à frente de ninguém

i) Já não faço coisas porque sim, mas apenas coisas que se justificam

j) Me coíbo de dizer grandes verdades, em nome da boa educação

k) Não tenho nada para comer, se não comprar ou cozinhar alguma coisa

l) Não posso sair de casa sem levar a chave

m) Vou ter contas para pagar nos próximos 40 anos


Resumindo, ser adulta é uma tristeza. Onde é que se pode fazer inversão de marcha nesta estrada?

6 comentários:

Alecrim disse...

Comecei a ler est post e lembrei-me de ter dito uma vez a uma amiga: Começamos a ser adultos quando nos tornamos tristes.
E para mim isto é verdade.
Conquanto eu me sente no chão sem muitas cortesias, brinque e corra mesmo que tudo abane... e em muitos momentos seja ainda uma criança. Mas só isso me faz viver. Ser alegre, apesar de triste.

Pipa disse...

Bom, não sei onde podemos fazer inversão de marcha, mas quando souberes por favor avisa-me! Assino por baixo do teu post. Simplesmente adorei! Revi-me 100% nele! Mas também tens que pensar nas contrapartidas: se não fosses adulta com essas responsabilidades todas, e coisas a abanar, não terias o prazer nem a alegria de ver os teus filhos crescer, a evoluir. Para mim, e de certeza que para ti também, isso equilibra um pouco o prato da balança...Faz-nos ter força para continuarmos a ser adultas!

Anónimo disse...

Penso que a melhor definição de "ser adulto", deu-a o nosso grande poeta José Régio no seu

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

Vida de Praia disse...

:-) ou :-S ...

Não sei se é por não ter filhos, e como tal, não ter encargos a sério, mas muitas vezes sinto-me um bocado fraudulenta, como se só fizesse o papel de adulta; porque nunca me senti nem me sinto adulta.
Só serei verdadeiramente adulta quando de minha alta recreação e sem receio puser o carro num daqueles edifícios de estacionamento. Tudo o resto são cantigas :-D

tikka masala disse...

Hehe! Mas olha que eu, mesmo com filhos, tenho muitas dúvidas sobre se não serei mais criança do que eles :)

Vida de Praia disse...

E nem imaginas como me aliviou ouvir-te dizer isso ;-D