05/12/07

O Pai Natal e eu


Na nossa sociedade, é quase impossível não ir na onda de dizer às crianças pequenas que o Pai Natal é que traz os presentes. Enquanto eles estão nessa idade em que querem e gostam de acreditar nisso, quem são os pais que lhes negam o prazer de viver essa fantasia, uma vez por ano? Quais são os adultos que têm coragem (e paciência) para contrariar o espírito incutido pela televisão, pelos amigos, pela escola, pelos familiares, pelos vizinhos, por quase toda a gente que fala às crianças nesta época?

Eu não tenho. E acho que já nem as avós cristãs que tentam repor a autoridade do Menino Jesus nessa matéria conseguem competir com o Pai Natal. E afinal, se ele é inspirado na figura histórica de um bispo altruísta que quis oferecer dotes às três filhas de um homem pobre sem ser visto, o Pai Natal é muito mais cristão do que a muita gente pensa. Nesse sentido, até é um homem bom, um exemplo inspirador. Uma vítima, como nós todos, do consumismo desenfreado em que nos afundamos cada vez mais.

Mas o Pai Natal tem uma coisa que me irrita profundamente: é fazer com que a minha filha pense que eu e o pai não lhe damos nada no Natal. Como somos nós que nos ocupamos de lhe satisfazer os desejos, que ela cuidadosamente regista e manda numa cartinha a esse velho bondoso que vive no Pólo Norte, não nos sobra margem financeira (nem criativa) para arranjar mais alguns presentes que lhe possamos dar, além dos que ela pede ao Pai Natal. Resultado: ela acaba por concluir que esse ilustre desconhecido é mais querido para ela do que os próprios pais. Ora, isso parece-me uma injustiça má de mais para ser mantida dentro destas quatro paredes!

Portanto, este ano, quando fui acusada de não ser tão boa como o homem invisível, tratei de dar a volta à situação. Inspirei fundo e expliquei à Mecas a grande verdade: que o senhor de vermelho é realmente muito simpático em trazer até cá, magicamente, os brinquedos que os duendes fazem a pedido das crianças. Mas que – E ESTE É O FACTO QUE MUITAS CRIANÇAS DESCONHECEM – os pais recebem depois a factura para pagar. Porque ninguém trabalha de graça e o Pai Natal não é excepção!

11 comentários:

Pipa disse...

Nós, pais, temos que nos unir e formar um sindicato, cujo lema seja qualquer coisa como: nunca seremos destronados por aquele idiota de barbas brancas, gordo e de vermelho! É que sinceramente já não há espírito natalício que resista!!! No nosso tempo, e honestamente, acho que o Natal tinha muito mais magia do que agora. É um consumismo que chateia, de tão exagerado. Tento incutir o verdadeiro espírito de Natal na M., mas às vezes torna-se muito difícil na sociedade em que vivemos. Enfim...

Vida de Praia disse...

LOL! Cortaste o mal pela raíz e acabou-se logo a injustiça :-D

Alecrim disse...

Boa!
O que eu me ri com este post!

papel químico disse...

eu nunca consegui que o homem-aranha acreditasse no pai natal e até tentei (com muito pouca convicção é certo). houve uma altura que até me culpabilizei um bocadinho por não lhe estar a proporcionar essa experiência de infância. mas também não suporto os homens anafados de nylon vermelho a fingir que trepam às varandas ; )

Vida de Praia disse...

LOL. És tão pragmática, papel químico! Adorei a tua descrição do típico Pai Natal ;-D

tikka masala disse...

Sorte a tua, Papel Químico, que o teu aranhiço (!) não queira ir nas patranhas... já a minha Mecas quer ir na onda... o que é que eu posso fazer?!

papel químico disse...

mas é tão bom acreditar. deixa lá. a mecas é uma sonhadora.

Anónimo disse...

Não me esqueço da tremenda desilusão que sofri quando me disseram que tudo isso era mentira. Talvez tivesse começado aí a minha caminhada para o ateísmo. Porque descobri que não podia continuar a acreditar em tudo o que os meus pais (e outros responsáveis pela minha educação) me diziam. O episódio teve contudo a vantagem de, bem cedo, começar a pensar pela minha cabeça.

De qualquer forma. acho preferível dizer-se a verdade às crianças.

Fernando Vouga

Alecrim disse...

Já é dia 10. Faz de conta que é dia 9: Parabéns!! Um beijo grande!

Isa Maria disse...

mas o pai natal e o menino jesus são a graça e fantasias do natal. sem eles, acabava-se de vez com o natal

tikka masala disse...

Obrigada, Alecrim. Nunca te esqueces de nada? ;)