Hoje tive a estranha sensação de receber um e-mail de mim própria, apesar de não o ter escrito.
Uma amiga confessa-me que tem a mania das arrumações e que isso prejudica a sua relação com o marido e os filhos, descrevendo cenas que parecem saídas da minha vida. Pior, sentimentos que parecem saídos cá de dentro, sentidos tão intensamente e há tão pouco tempo.
A minha reacção às palavras dela, depois de ter reflectido um pouco, foi pensar que, de facto, as mulheres devem mesmo ser todas iguais. Pelo menos as que levam uma vida semelhante: vivendo com um homem e um ou mais filhos.
Fico com a sensação de que encarnamos todas um triste paradoxo, pois passamos a maior parte do tempo a reclamar porque temos de fazer tudo sozinhas e os intervalos a dizer aos nossos maridos que deixem estar, que não ajudem, muitas vezes com a mal contida (e estúpida) certeza de que eles não sabem fazer as coisas tão bem como nós.
Das duas uma: ou eles são uns queridos e insistem, apesar da nossa teimosia, e conseguem aspirar o quarto quando nos apanham desprevenidas; ou desistem, porque não estão para se chatear e, afinal, nós até lhes demos todas as deixas necessárias para que deixassem de nos ajudar.
Mas não há homens com a mania das arrumações? Há, certamente. Nesse caso, o que acontece? Não sei. Provavelmente não se casam. Porque as mulheres se sentem ameaçadas por um homem desses: um homem como elas, que assuma o papel que lhes é tão caro. (Desculpem as generalizações que estou para aqui a fazer, mas gosto de pensar que não sou a única.) As mulheres fazem questão de assumir o papel de vítima do casal: aquela que tem o triplo das responsabilidades e das tarefas (emprego, casa, filhos) e que, assim, tem razão para se lamentar a vida inteira. Que outro motivo poderá justificar o facto de nos queixarmos de não termos tempo para nada e ao mesmo tempo dispensarmos a ajuda deles?
E que estas generalizações não ofendam ninguém, porque na verdade eu estou é a confessar-me no plural.
Quanto a mulheres desarrumadas, que não cozinhem e se estejam a borrifar para as responsabilidades domésticas e maternas, sinceramente, não acredito que existam. Se não forem boas mães, são arrumadas ou gostam de cozinhar. Se não gostam de cozinhar, são boas mães ou são arrumadas. Se são desarrumadas, são boas mães ou gostam de cozinhar.
3 comentários:
Adorei este post.
Ai, o eterno dilema feminino!... E os coitados dos nossos homens são presos por ter cão e presos por não ter.
Por acaso conheço um casal em que é ele que faz as limpezas e não deixa a mulher, porque não confia que ela limpe tão bem como ele... mas aquilo é quase patológico, por isso não é representativo (se uma vez por outra lá a deixa aspirar põe armadilhas, p.ex. carrinhos, debaixo do sofá para testar se ela aspira debaixo do sofá).
Ora aqui está uma belíssima crónica que merecia aparecer numa boa revista. Como diz a Vida de Praia, trata-se do velho dilema da condição feminina.
Claro que estamos, homens e mulheres, condicionados por factores de ordem "animal" (funções diferentes no que respeita à propagação da espécie) mas, sobretudo, com milhares de anos de institucionalização do preconceito da inferioridade da mulher. É espantoso como é que só agora, na nossa cultura, se descobriu que que essa tal inferioridade não tem a mínima fundamentação. Quase só a Igreja Católica é que teima em prolongar o erro.
E, por causa disso tudo, o homem (refiro-me ao macho), tem ainda muitos pruridos (e oportunismos)quanto às tarefas domésticas.
O que é preciso é que todos, homens e mulheres, se respeitem.
E mais: que as mulheres deixem os homens fazer o que até aqui foi considerado tarefa de mulher - e vice versa se for preciso ;-)
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