18/09/07

Mórbido voyeurismo

Há dias, na data previsível, vi um documentário sobre a tragédia de 11 de Setembro em Nova Iorque. Dei por mim a pensar que vantagem veriam os sobreviventes em falar publicamente sobre a experiência. Questionei-me sobre a hipótese de alguns deles o recusarem e os motivos que invocariam. Perguntei-me: será que, quando vemos documentários sobre acontecimentos horríveis como esse, aprendemos alguma coisa que valha a pena? E quando vemos filmes como o Alive, aquele sobre o avião que se despenha nos Andes, será por outra razão para além do prazer mórbido que Freud explicou como a pulsão de thanatos?

Incomoda-me que se tenha feito um filme baseado na tragédia de 11 de Setembro. E que algumas pessoas se riam (como ouvi rirem-se) ao ver, em Alive, a encenação dos passageiros do avião a cair no ar, sentados nas cadeiras a que estavam presos, sabendo que aquilo aconteceu de facto. Aliás, confesso que sinto uma certa vergonha de mim própria por gostar de ver filmes baseados em acontecimentos fatídicos, como furacões, vulcões, naufrágios, etc. E quando isso acontece, penso que gostaria de ter a certeza de que ver essas tragédias encenadas traz algum benefício que não ofenda a memória dos que não sobreviveram às verdadeiras.


1 comentário:

Vida de Praia disse...

Creio que se torna morbidamente interessante para nós ver tragédias que se passaram na vida de outrem para que sintamos a sorte de não ter passado pelo mesmo. Para além disso há as expectativas de quem nos rodeia de que nos interessemos pelos assuntos da actualidade - francamente não me têm interessado minimamente as emissões sobre o 11 de Setembro, mas se eu digo isto publicamente, como o faço neste momento, ainda alguém me acusará de falta de sensibilidade.
Creio que neste tipo de voyeurismo as vítimas - os sobreviventes e as suas famílias - também são capazes de ganhar pela atenção que continuam a receber ano após ano, que de certo modo mantém vivos quem sobreviveu e quem não sobreviveu, não sei...