Afinal, Deus é assim tão importante?
Porque é que quem acredita tem de o defender “até aos confins do mundo” (a expressão é de uma “apaixonada” que comentou o meu texto anterior), em vez de simplesmente se comprazer nessa satisfação espiritual que alcançou?
Se é verdade que a Igreja tentou converter muita gente à força em nome de interesses que nada tinham que ver com a religião, não se pode negar que haja ainda hoje muitos milhares de pessoas que abnegadamente se dedicam a espalhar a “palavra de Deus” (na verdade, palavras de outras pessoas sobre ele), apenas para partilhar com os outros a bênção que crêem ter recebido.
E para quê? Para que nos sintamos todos muito bem, na certeza de que resolvemos o mistério do Universo? Para que nos amemos todos e sejamos felizes, sem guerras, sem doenças e sem fome? Para que nos regozijemos na antevisão da vida para além da morte?
Parece-me uma grande ingenuidade. Para dar importância a sentimentos positivos como o amor, o respeito pelo próximo, a solidariedade, a justiça, para viver segundo princípios que nos dignifiquem, de acordo com uma moral que é filosófica e cultural, além de poder ser religiosa, não é preciso ter-se descoberto esse Amor de Deus que os crentes insistem em pregar.
Todos sabemos que, muitas vezes, é em nome de Deus que se cometem as maiores atrocidades. Eu diria mesmo que, à escala mundial, e considerando todas as religiões, os crentes prejudicam mais os outros seres humanos do que os ajudam. Porque cada “facção” acha que é a única que está na posse da verdade sobre Deus! E, mesmo quando conseguem conquistar novas “almas”, não é por isso que a violência, as doenças, os crimes, a fome, a injustiça deixam de existir e de fazer as suas inúmeras vítimas diárias. Então para quê dar tanta importância a essa entidade que NÃO RESOLVE NADA?
Desculpem, mas o pai de um amigo meu acaba de morrer com cancro. Era um homem bom, justo, solidário, sensível. Há seis meses ninguém suspeitava que viria a sofrer o que sofreu nestes últimos tempos, que viria a sucumbir de forma tão dolorosa e horrível, minado por um inimigo misterioso. Seria Deus?
Não sei. Mas também não me interessa. Porque, tanto quanto podemos saber com toda a certeza, SÓ TEMOS ESTA VIDA, SÓ NOS TEMOS UNS AOS OUTROS. O resto continua a ser uma incógnita.