18/07/07

DPP: 18 de Julho

Será por puro egoísmo que temos filhos? Ou será por ancestral obediência a um impulso ditado pela Mãe Natureza?

O primeiro foi a experiência suprema, a mais bela e incrível forma de realização pessoal que eu poderia ter vivido. “Já posso morrer, porque pelo menos já me continuei nesta filha” – não sei se me explico.

O mundo está uma desgraça, os danos são, em grande parte, irreversíveis e eu sempre pensei que era uma crueldade conceber crianças que, mais tarde, teriam nas mãos a dura tarefa de tentar emendar os nossos erros. “Mas o teu filho pode salvar o mundo!”, dizem-me os optimistas. “Não faz sentido deixarmos de ter filhos porque o planeta está em risco”. Ai não? Tenho as minhas dúvidas.

Ainda assim, não me fiquei pela primeira. O egoísmo é como uma placa de esferovite no mar da nossa mente: por mais que o empurremos para o fundo, está sempre a surgir à superfície. A desculpa mais imediata é comovente: ter outro, para que ela possa brincar, ter companhia, para que não sofra daquela solidão (egoísta!!) dos filhos únicos. E o planeta? O planeta... tem de aguentar, tem de esperar! E a educação deles passará obrigatoriamente pela sensibilização para a responsabilidade individual de todos: temos de ser nós a fazer alguma coisa.

E assim, o outro vem a caminho. Ao contrário dela, não foi concebido “sem querer”: foi desejado antes de ter existido, planeado para nascer na altura mais conveniente, concebido com plena consciência, porque cada tentativa poderia ser a ocasião solene da sua criação.

O segundo filho é, assim, para partilhar com ela. Não vem apenas cumprir a função de filho, vem também para ser irmão. Será amado por três, em vez de dois. Não saberá o que é ter a atenção exclusiva, o amor exclusivo da mãe, mas não sofrerá o abalo de ser destronado dessa posição privilegiada em que a primeira esteve durante mais de quatro anos. Como será, para uma criança, ter de amar alguém que lhe entra em casa pela primeira vez num dia qualquer, para lhe roubar espaço e carinho dos pais? Eu nunca soube qual o sabor dessa estranha conquista, que é talvez o primeiro grande passo de maturação. Mas intriga-me e entusiasma-me saber que vai ser hoje ou amanhã que começará o caminho. O dela, como irmã mais velha, e o meu, como mãe a dobrar. Mãe a dobrar-se. Mãe desdobrada. Mãe rendida à satisfação de se ver multiplicada.

15 comentários:

ana disse...

Desejo-lhe uma hora pequenina como se diz... Que corra tudo bem, que nasça com tranquilidade mas cheio de energia!
Um beijinho

Anónimo disse...

Gostei da esferovite...

tikka masala disse...

És tu, Wallace?! Talvez aquele pedaço que apareceu na varanda ontem tenha sido um sinal... pelo menos inspirou-me!

tikka masala disse...

Obrigada, Sofia :)

Anónimo disse...

Gostaria de deixar aqui um comentário especial. Mas não sei o que dizer. Talvez porque a autora deste blogue sabe muito bem o que sinto.
De qualquer forma, boa sorte.

Anónimo disse...

Também lhe desejo uma hora muito pequenina. E quero lhe dizer para não ser tão péssimista. Com certeza que é muito boa mãe e vai continuar a ser com este/esta seu/sua segundo/a filho/a. E dê muitos miminhos a eles, pois esta fase passa muito rapidinho... Tudo de bom para si e para o seu bebé. Beijinho.

iPa disse...

Desejo que corra tudo bem!Um grande beijinho. Filipa =)

Vida de Praia disse...

OK, não vou ser como os demais (se bem que te deseje boa sorte do fundo do coração); hoje prefiro provocar, ser do contra: e QUAL é o problema se se tem filhos por puro egoismo???! Quem é que tem filhos por outros motivos? Prefiro essa franqueza àquela conversa do "eu tive filhos para melhorar o mundo, bla bla bla" em que não acredito peva!
E se escolheste ter um segundo é certamente por ter sido uma boa experiência ter o primeiro.
Quanto ao destronamento, como filha mais velha conheço essa sensação muitíssimo bem; mas o impacto, a violência depende TANTO de vocês, pais. Se os miminhos continuarem a escorrer, tudo bem. Estar num trono não é necessariamente tão divertido assim...
O que significa DPP?

Anónimo disse...

Eu gostei especialmente desta parte que passo a citar:
"(...) planeado para nascer na altura mais conveniente (...)"

Segundo sei, estava planeado para Fevereiro ou Março... lá se foram os planos... e as férias!!!

Para: Vida de Praia
DPP: Dia Previsto para o Parto

Alecrim disse...

Estou à espera de notícias...
Beijinho.

Vida de Praia disse...

Obrigada pelo esclarecimento, wallace. Pensei que seria algo do género, mas não acertava com a sigla...

tikka masala disse...

Gostei dos vossos comentários, amigos! E continuo para aqui à espera que o gajo/gaja se decida a sair :P
Wallace, um esclarecimento: "planeado para nascer na altura mais conveniente" não significa que tenhamos conseguido. Só quer dizer que fomos tentando sempre, com o mesmo objectivo, até conseguir. E as férias melhores são as que se fazem numa altura diferente das multidões. Porque não em Outubro?!

papel químico disse...

bom, eu desisti de ligar. vou manter-me atenta aos sinais. beijinhOs.

Isa Maria disse...

tb lhe desejo uma hora pequena mas muito feliz. Que este segundo filho traga muita alegria. Passei pela mesma experiência. Ter um filho, para mim, é mesmo um acto egoísta. No entanto, acho que, desde que nascemos somos moldados nessa direcção, da procriação, de seguir o que a mãe natureza nos dá de tão belo: a concepção de um filho.Contradições que transporto na minha pobre cabeça. Desculpe se a aborreço.

tikka masala disse...

Nada disso, Isamar! Obrigada pelo comentário :) É sempre bom encontrar quem compreenda o que sentimos.