Se há um cheiro que considero mágico, envolvente, divino, mítico, é o cheiro a torradas acabadas de fazer.
As torradas são, em princípio, um luxo de fim-de-semana, um privilégio, um gosto que nem todos podem sentir. Não me refiro àquelas tiras grossas e irremediavelmente secas que servem nas pastelarias, mas às deliciosas torradinhas que cada um, de vez em quando, se dá ao trabalho de fazer em casa, com o pão da sua preferência e tostadas exactamente como se gosta: nem de mais, nem de menos: jusqu’au point.
As pessoas que podem dar-se ao luxo de fazer torradas de manhã, durante a semana, são incontestáveis felizardas. Mas também são espertas. Porque se recusam a engolir à pressa uns cereais de origem duvidosa, ou a tomar café numa pastelaria barulhenta, com alguém a fumar-lhes para cima. Preferem levantar-se um pouco mais cedo e deleitar-se com a sensação de tranquilidade e bem-estar que umas torradas generosamente barradas com manteiga, mel ou doce proporcionam. Sem dúvida, essas pessoas gozam de melhor qualidade de vida do que as outras, pelo simples facto de serem felizes ao pequeno-almoço. Porque uma torradinha bem feita, antecipada por aquele aroma voluptuoso, é claramente uma mais-valia.
Não me admiraria nada que numa revista científica se publicassem os resultados de um estudo que permitira concluir que comer torradas diariamente aumenta a longevidade.