20/11/06

PEQUENO CAOS



Tenho a casa cheia de tralha e isso incomoda-me bastante. É incrível, mas a consciência de que há cobertores que nunca uso, molduras velhas, caixas com coisas que me deram e de que nunca gostei e roupa que já não me serve dentro dos armários é suficiente para me trazer assim irritada, frustrada, como estou hoje.
"Detesto tralha!" é uma frase que digo muitas vezes, quando já não sei o que fazer e não aguento mais a quantidade de objectos inúteis à minha volta.
Faço planos para um futuro próximo: esvaziar cada roupeiro de toda a tralha que não me interessa guardar e dá-la a quem eventualmente precisa. Depois hesito: mas quem é que poderia precisar das minhas coisas inúteis? Dos cobertores ainda vá... da roupa, se calhar, alguma. E aquelas coisinhas todas, aquela quantidade de tarecos que provavelmente ninguém quer? Lixo com eles?
O problema é que eu tenho uma atitude muito ecológica em relação ao lixo: só se deita fora, em último caso, aquilo que não tem mesmo qualquer hipótese de ser aproveitado. Afinal, essas "tralhas" de que não gosto até podem ser do gosto de outras pessoas... e algumas até podem ser úteis, apesar de não terem utilidade para mim. Volto à estaca zero. Entretanto, tenho mais que fazer: preparar aulas, materiais, refeições, arrumar a casa, passear o cão. As tralhas podem esperar.
Mas depois, quando não estou à espera, parecem mirar-me de dentro dos roupeiros, como se as portas fossem transparentes, a ver se eu reparo nelas. «Estamos aqui a ocupar espaço! Livra-te de nós!...» Sinto-lhes a presença a atafulhar a casa, enquanto trabalho, sentada à secretária. Enervam-me. E finalmente, quando me levanto para ir buscar alguma coisa a uma gaveta e não encontro o que procurava porque a gaveta está CHEIA DE TRALHA... AAAAAAAAAAARRRRRGH! Dá-me uma coisa e tiro tudo lá de dentro, para decidir de uma vez por todas o que é que sai e o que é que merece ficar lá dentro.

Contudo, essa escolha demora sempre muito mais tempo do que aquele que eu tenho disponível, nesse intervalo que se impôs no trabalho que estava a fazer. Ao fim de uma hora, desesperada por ter desperdiçado o meu rico tempo numa tarefa tão pouco produtiva, depois de me ter distraído a ver fotografias e as recordações mais parvas que se podem guardar, volto a pôr tudo na gaveta, numa ordem que é apenas aparente e extremamente frágil. E a vida continua, na minha inglória convivência com o caos.





6 comentários:

tikka masala disse...

O meu medo é que as coisas fiquem em sacos à porta de casa... por várias semanas!

Vida de Praia disse...

Ora, aqui está mais um sintoma do tal diagnóstico do post anterior... ; )
A sério: se há coisa que também me irrita cá em casa é precisamente a tralha completamente desnecessária que se guarda a propósito não sei de quê. Às vezes dá-me um "vaipe" (não sei se é assim que se escreve), uma coisinha má, e deito montes de coisas fora e fico toda satisfeita e nada arrependida, como argumentava comigo própria que ficaria.
De há uns anos para cá que me deixo inspirar pela onda do simple living. Dizem que se amarra um monte de energia (negativa) às coisas. Um dos melhores conselhos, que sigo o mais possível, é o seguinte: coisas que não usaste durante mais de 3 anos, lixo com elas (ou dar a uma obra de caridade ou coisa do género). E coisas que estão avariadas, dá-lhes 6 meses; se ainda não as reparaste ao fim dos 6 meses, lixo com elas. Não te arrependerás.
Boa sorte : )

Anónimo disse...

"Lá fora", ou seja, noutras culturas, nomeadamente na dos EUA, existe uma técnica de livrar as pessoas das tralhas. Chama-se "garage sale". Pelo menos uma vez por ano, durante um domingo, as pessoas colocam à venda na garagem tudo o que querem ver porta fora. Depois, é um mar de gente a deambular pelas garagens a ver o que lhes interessa para comprar a preços módicos.
O pior é que os vendedores também são compradores. Deixam alguém por umas horas a tomar conta da loja improvisada e também vão às compras. E o resultado está à vista: tudo acaba quase sempre por ser uma mera troca de tralhas...

rascunhos disse...

Não mudaste de casa nos últimos anos pois não? ehehehe

tikka masala disse...

Deprofundis, adorava que houvesse alguém interessado em comprar a minha tralha. E acho que seria capaz de resistir a comprar as tralhas dos outros. Ilhota2, por acaso mudei de casa há apenas 3 anos. Dei muita coisa antes da mudança, mas trouxe alguns tarecos inúteis estupidamente. Na casa nova, o meu marido obrigou-me a livrar-me de muita coisa, alegando que "não se coadunava" com os nossos novos aposentos (e muito bem!). Mas mesmo assim, ao longo dos últimos 3 anos, tenho conseguido acumular novas quantidades astronómicas de tretas. É incontrolável!

Vida de Praia disse...

O diagnósticoooooooo... ; )