16/11/06

Ó mãe, eu não vou morrer, pois não?



Hesitei. Mas depois, felizmente, saiu-me a resposta sensata: «Não, querida!»

Um passarinho morto no chão da rua foi o primeiro contacto dela com essa ideia estranha e perturbadora, que acaba, mais cedo ou mais tarde, por levá-los a questionarem-se e a questionarem-nos.

Preferia "de onde vêm os bebés?", que é uma história muito mais gira de contar.

Gostava de acreditar nalgum Deus, na harmonia tranquilizante do Céu com maiúscula. Mas a minha cabeça obstinada não me permite pensar que isso é outra coisa além de uma fantasia absurda. E nem o pavor de morrer me faz esquecer os argumentos da razão em nome da paz de espírito.

Não quero, porém, transmitir essa inquietação à minha filha. Não quero que ela acorde, como eu, a meio da noite, apavorada com a noção - subitamente clara - de deixar de existir. Por isso lhe digo que não, que não vai morrer.

Mas ela insiste: «e tu, mãe? Tu não vais morrer, pois não?»

3 comentários:

Vida de Praia disse...

As crianças são peritas em pôr questões perspicazes e angustiantes. Glup!...
Sabes, para mim seria bem mais difícil não acreditar e ficar por aqui à deriva, ao acaso, à mercê de um destino qualquer. Sempre tive dificuldade em perceber que argumento justificaria estarmos aqui e depois de uns anos desaparecermos de vez; para quê? Para mim não faz sentido, parece uma perda de tempo. E nem sei explicar porquê.

Dulce disse...

Podia fazer minhas as palavras da Vida de Praia. Se não fosse plágio... :)
Olha, tenho uma proposta de post para ti. No meu blog.
Beijo grande!!

Anónimo disse...

Explicar a vida e a morte como coisas de deuses é apenas um expediente para "vender o peixe" e facilitar a resposta.
Estamos vivos e a morte, a coisa mais natural do mundo, só nos perturba demasiado porque, para lá do natural instinto de conservação, foram criadas à sua volta expectativas por vezes aterradoras.
A morte incomoda os vivos mas, quem morre, não sabe o que lhe aconteceu. A mim só me incomoda porque me vai roubando as pessoas que estimo. Pessoalmente, não a desejo mas não a temo. Só tenho pavor à velhice e à senilidade que normalmente a acompanha.
Talvez seja altura para pintarmos a morte com cores mais alegres.