Um dia, uma aluna minha apresentou na aula um trabalho sobre os velhos (tema sugerido por mim). Ficámos todos a chorar, de comoção, de culpa, de tristeza, sei lá eu, com as palavras e as imagens com que ela ali nos desarmou perante o sofrimento dos velhos e a crueldade dos mais novos, que, em muitos casos, não os tratam condignamente.
Uns choravam porque os avós tinham morrido há pouco, outros porque os avós ainda eram vivos. Todos, talvez, porque sabíamos que também lá chegaríamos, que sentiríamos na pele a fria indiferença de filhos e familiares ingratos.
A mim, que sou relativamente nova, parece-me que os velhos sempre foram velhos. Parece agora paradoxal dizer isto, que de resto é uma parvoíce, eu sei, mas a verdade é que, quando vejo uma pessoa muito idosa na rua, custa-me a crer que dentro dela há alguém jovem, ainda, um coração como o meu, que simplesmente está preso dentro de um corpo enfraquecido, vergado pelo peso dos anos que já viveu.
Com toda a honestidade, estou apenas a tentar exprimir aquilo que sinto, sem querer, e tenho plena noção de que um dia vou perceber exactamente como é que uma pessoa idosa se sente... e também vou ficar triste, ao constatar que os jovens pensam que sempre fui velha, que sou tão diferente deles como um extraterrestre.
Há um senhor com 91 anos com quem converso às vezes, porque costumava passear um cão, como eu. Há tempos deixou de o levar à rua, por receio de já não o conseguir controlar. Mas ainda vai até ao café, tomar a sua bica e ler o jornal. Quando me cruzo com ele, pergunto-lhe como vai. E ele responde, melancólico: «vai-se andando... com esforço, mas tem de ser. Tenho de andar, senão deixo de me conseguir mexer.» E depois, com um sorriso estranho, triunfal e desgostoso ao mesmo tempo: «Já são 91 anos!»
«Pois... tem de ser!»... O que mais posso eu responder?
E fico a imaginar aquele senhor a andar ligeiro, com as costas direitas, a pensar no que ele fazia quando nem lhe passava pela cabeça que seria velho, um dia.
4 comentários:
Tenho, sem vergonha de espécie nenhuma, 65 anos bem vividos! Cá dentro do meu peito bate um coração já um pouco desgastado pelo tempo, mas que se sente com 40 anos, pronto para todas as aventuras. Na minha cabeça está uma mente cheia de experiências, de cautelas, de manhas, de astúcias, mas também de sonhos como só sabem sonhar os jovens.
E vai ser sempre assim, até ao último dia.
Como mero esclarecimento e prova de como é verdade a idade não ter idade está o meu sogro que, aos 82 (oitenta e dois) anos foi pai de um saudável rapaz... E é ele o pai, porque a mulher teve de se sujeitar a uma implantação uterina por razões relacionadas com abortos continuados!
Não é giro eu ter um cunhado com sete meses e as minhas filhas (com 26 e 25 anos) um tio de fraldas?! Para já não falar na minha mulher, claro...
Eu também sei que lá chegarei, em princípio, e também a temo, a velhice. Mas conheço exemplos tão díspares!...
Gostei bastante deste post. Às vezes também tento imaginar o/a jovem que já foi a pessoa idosa sentada à minha frente. A idade é uma coisa estranha: só vou fazer 34 este ano e sinto-me jovem e a par das coisas, mas aos olhos dos meus sobrinhos teenagers já sou uma adulta um tanto retrógrada, creio.
"Podemos ficar com a pele rugosa, mas a alma lisa.
Podemos reduzir de estatura, mas crescer em emoção.
Podemos ficar mais pesados, mas mais leves de espírito.
Podemos ficar mais fracos fisicamente, mas com mais força interior.
Podemos perder a visão, mas manter despertos os sentidos da sensibilidade estética.
Podemos ficar surdos e ouvir-nos melhor e aos outros.
Podemos perder células nervosas e ganhar células de cultura.
Podemos perder capacidade cardíaca e cada vez mais aumentar a nossa capacidade de amar."
...li isto algures,guardei
e leio de vez em quando...
Enviar um comentário