18/09/06

MUITOS E BONS


“Tenho poucos, mas bons” – é um cliché que quase toda a gente gosta de aplicar aos seus amigos. Na verdade, é um tanto ridículo. Se fossem maus, não lhes chamaríamos amigos. Não basta constatar que são poucos? E por que não “muitos e bons?”

Infelizmente, não é possível ter muitos amigos. Eles são (quase?) tão importantes como os cônjuges e exigem tanta atenção como as crianças. Se não lhes dermos essa atenção, são capazes de não correr perigo de vida, mas a amizade é que acaba por se esvair, transformando-os a eles, e transformando-nos a nós, em meros conhecidos (ou será que são estes os amigos menos bons?).

A nossa vida, enquanto adultos responsáveis e trabalhadores, não nos permite darmo-nos ao luxo de manter todas as amizades, por mais que nos esforcemos por cultivá-las. Acabamos por ver-nos obrigados a escolher entre colegas de trabalho e amigos de longa data, porque não temos tempo para todos. Se é verdade que, ao longo de toda a vida, ela nos vai oferecendo excelentes e insuspeitadas oportunidades de criar laços de amizade, é inegável que, em muitos casos, para abrir a porta aos novos é preciso “abandonar” alguns antigos. Não é uma escolha consciente, mas acabamos por fazê-la aos poucos, quase sem dar por isso. Quem é que não se ouviu já dizer várias vezes: “tenho de telefonar a este ou àquela, já não falo com ele(a) há tanto tempo...”

Eu tenho a felicidade de fazer novos amigos regularmente, com facilidade, mas não posso gabar-me de ter sido capaz de manter vivos os laços que me ligavam a muitos outros que foram ficando pelo caminho, porque eu (e eles) deixámos. É uma realidade triste, às vezes dá-me vontade de correr o mundo à procura de pessoas que já não sei onde estão. E de repente, fico com imensas saudades de vocês! Anne-Laure, Elise, Jessica, Jeanine, Anna, Michelle, Paul, Adrian, Sandra, Madalena... onde quer que estejam, sintam o meu abraço longíquo. Posso ter falhado, mas não me esqueci de vocês!

6 comentários:

Dulce disse...

Viveste no estrangeiro?

tikka masala disse...

Hehe, Dulce! Essa foi gira. Depois conto-te!

Anónimo disse...

O que conta na amizade não é propriamente o contacto permanente. É o que sentimos pelos nossos amigos. Quando numa amizade passa a haver obrigações, ela deixa de o ser.

rascunhos disse...

Concordo com o"deprofundis".A verdadeira amizade é completamente espontânea.Até podemos estar dias,semanas ou meses, sem ver os nossos amigos, mas se eles O SÃO realmente, não é por isso que nos esquecem ou os esquecemos.

E os reencontros são sempre agradáveis, mesmo que aconteçam com menos frequência do que desejariamos.

Não acredito em amizades por "obrigação", tipo aquela que existe na maioria da parentela, por exemplo.

tikka masala disse...

Talvez não me tenha expressado convenientemente... não queria deixar transparecer que entendo que a amizade só sobrevive se a encararmos como uma obrigação. Mas também não acredito que, quando deixamos de ver os amigos, essas amizades se mantenham inalteradas. Podemos até ter conversas muito animadas quando os reencontramos, mas não é a eles que recorremos, nem eles a nós, quando temos problemas e precisamos de ajuda.

Vida de Praia disse...

Conheço tão bem este tema, a fatalidade das amizades que descuidamos e/ou que nos descuidam a nós pela falta de tempo/energia/vontade/coisas em comum. Faz parte da vida, como a renovação da água num riacho, mas não se torna mais fácil por isso. Dos amigos que já tive e por uma razão ou outra, quase sem se notar, deslizaram para fora da minha esfera, grande parte hoje já não são amigos nem companheiros, mas conhecidos com memórias passadas em comum, mas a quem não recorreria se precisasse. Não por má vontade, mas porque já não estamos na mesma onda, tendo perdido a vivência que tinhamos em comum. Só há um ou outro em que se manteve aquela ligação especial e incondicional apesar da passagem do tempo e de não nos vermos.
Os poucos são bons se é para isso que temos energia. Li um estudo sobre a relação entre a quantidade de amigos e o estado de saúde da pessoa - concluíam que o importante não era a quantidade, ter muitos amigos, mas se era ou não proporcional em relação à energia que se tem; ou seja ter muitos amigos só contribui para uma melhor saúde, se temos tempo para alimentar e cuidar as amizades.