15/09/06

CONFIDÊNCIA

Às vezes chego à conclusão de que não sei estar socialmente.

Entre amigos, ou digo coisas despropositadas, quando não são mesmo inoportunas, ou fecho-me num silêncio constrangedor e também despropositado. Ofendo-os sem querer, com palavras mal escolhidas, ou com a falta delas. Por vezes ainda, com palavras certas tornadas infelizes pelo tom errado.

Mas noto que tenho uma postura desadequada sobretudo quando estou em locais públicos, entre desconhecidos. Nas lojas, nunca sei como hei-de olhar as empregadas que se me dirigem. Sinto sempre que ainda não acertei na fórmula: ou falo com elas timidamente, olhando para o lado, fugindo ao seu olhar, como se fosse um bicho-do-mato, arrogante ou mal-educada; ou então resolvo fixá-las nos olhos e parece-me que lhes estou a dar confiança a mais, ou a agir como se elas já me conhecessem há muito tempo. E sinto que elas estranham a minha inesperada simpatia.

Na praia, nos cafés, no cinema, olho fixamente para pessoas desconhecidas que passam, como se ainda pudesse gozar daquela impunidade que só se concede às crianças, quando ficam especadas a mirar-nos de alto a baixo. Eu olho com essa inocência, apenas por curiosidade, mas sei que não posso. Ou pelo menos não devo. É que tudo me chama a atenção, por uma razão ou por outra. E esta mania de blogar não ajuda, porque me torna ainda mais indiscreta na minha tendência para o voyeurismo!

Enfim, não é para me queixar, nem para me auto-flagelar. É só para partilhar convosco esta confidência. Se houver mais alguém assim, já não me sentirei tão esquisita!

10 comentários:

Dulce disse...

Tens aqui contigo mais um ser "esquisito". Sobretudo nisso de olhar para as pessoas fixamente. Às vezes incomodo, mas ainda não consegui corrigir-me. E quando olho e me lembro e desvio um pouco o olhar, é ainda mais esquisito.

tikka masala disse...

Pois é, Dulce. Lembro-me bem do teu olhar. E sabes uma coisa...? Não me incomodou nada :)
Julgo que a razão foi o facto de eu sentir em ti uma curiosidade sã e afável, de quem queria ver-me melhor para me conhecer, e isso deu-me a alegria de me sentir interessante. Foi bom! É engraçado como podemos estar a fazer os outros felizes quando pensamos que os estamos a incomodar. Talvez seja uma lição para mim própria, isto que acabei de te dizer.

Vida de Praia disse...

Dizes que tens dificuldades na actividade mais complexa que existe, o ser-se social e natural com outrém? Também o considero um desafio enorme mesmo entre amigos e parentes. Quando consigo deixar o stress de lado e ser eu própria depois de umas horas de "aquecimento" começa a correr bem. Mas nunca é fácil logo à partida.

Olhar para as pessoas é um dos meus passatempos favoritos, não por voyeurismo mas, como tu, por curiosidade. Tento não ficar propriamente especada a olhar para elas, mas gosto de as mirar discretamente (acho eu que seja discreta, não tenho a certeza... espero que sim...) ; )

Anónimo disse...

Acho que estás à procura de te igualares a um modelo do que é um ser social perfeito. Felizmente tal ser não existe, pois ia ser muito aborrecido socializar com ele. Aquilo que tu vês como erros teus são reflexos da tua personalidade, são parte do que te tornam única. Não os queiras perder (pelo menos a todos) para não perderes a tua unicidade.

Esses aspectos só são erros, ou defeitos, se os virmos sob uma luz negativa. Com um pouco de argumentação, eles passam a ser vistos como qualidades. Será um erro dizeres coisas despropositadas? Se o que dizes for resultado de uma sinceridade tua, então não lhe chamaria defeito mas qualidade. Quanto a teres atitudes tímidas, para muitas pessoas isso é um aspecto atractivo. Podíamos continuar por aqui fora a transformar o que pensas serem defeitos em qualidades.

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

Anónimo disse...

Por vezes, quando se pensa demasiado na vida, acabamos "na fossa" como dizem com graça os brasileiros.
Mas o mal não está sempre no que fazemos. O mal está em tentar racionalizar demasiado as nossas atitudes.
É bom lembrar que um dia tem 24 horas ou seja,84.400 segundos, nos quais muita coisa boa e má passa pelas nossas cabecinhas. E que o bom e mau tem muito a ver com os padões morais, que são muito variáveis.

tikka masala disse...

Jaime, parabéns por mais um comentário decente e excelente. Estás a melhorar bastante :)
Vida de Praia, obrigado. E fica sabendo que, embora sejas mais ou menos discreta, eu também te apanhei a mirar-me :D
Deprofundis, tem toda a razão. Mas eu preciso de racionalizar, senão fico sem textos para o blogue!

Vida de Praia disse...

Oooops... ; )

rascunhos disse...

Há mais pessoas que se questionam com esse tema.

Conheço de perto quem ...

Rafael disse...

Bem vinda ao clube! :-)
A carapuça serviu-me na perfeição!

tikka masala disse...

OLá, Rafael! Obrigada pela visita.