Se interessa para alguma coisa escrever e manter um diário virtual, esse interesse reside na possibilidade de ter quem responda e reaja às nossas confissões. Por isso, desde já agradeço todos os comentários!
05/09/06
EU E OS CASAMENTOS I
Depois de ter escrito o post anterior, tenho de arranjar maneira de contornar este tema de forma a não me contradizer muito...
Talvez fosse bom começar por dizer que não sinto o que vem a seguir por estar contra, mas simplesmente por....
Ok, não funciona.
(Suspiro).
Bom, entrando no assunto por outro lado, vou começar por dizer que já estou para escrever isto há muito tempo, mas agora, por falta de outro tema e vontade de finalmente me “livrar” deste, resolvi não adiar mais este desabafo.
E pensando bem, é bom que os meus queridos leitores saibam como eu consigo ser incoerente. Afinal, a incoerência é um dos meus muitos defeitos, mas eu não tenho problema nenhum em admiti-los. E prefiro que os outros saibam que os tenho. O Calvin (sim, o do Hobbes) disse algures que fazia tudo mal para manter baixas as expectativas dos pais. Eu exponho os meus defeitos pela mesma razão.
E vamos ao assunto que me faz teclar hoje noutro ficheiro que não o da malfadada tradução.
Tenho um ódio visceral aos casamentos.
Pronto, basicamente é isto.
E porque é que isso me incomoda ao ponto de me fazer escrever sobre isso?
Bem, por vários e sérios motivos.
Primeiro, foi por causa disso que não me casei. A última coisa que quero na vida (das que os outros acham que são boas, claro) é ver-me dentro de uma igreja com vários fotógrafos apontados para mim; sentir-me entediada perante infinitas fotos com todos os amigos, familiares e amigos dos pais, de pé, à frente de um fundo adequado; andar num vestido de noiva a passear entre mesas de convidados e a perguntar se estão a gostar; e antes disso ter as inúmeras preocupações e canseiras para organizar o chamado copo d’ água – expressão que tem tanto a ver com a boda como eu tenho a ver com casamentos.
Quando a minha filha me pergunta se casei com o pai, ou quando casei, onde onde é que ela estava quando casámos, é claro que eu lhe digo que sim, que foi antes de ela nascer. E não acredito que ela um dia nos vá censurar por não sermos casados. Mas foi complicado fazer com que os meus pais aceitassem esta minha decisão e também não me senti propriamente feliz e confortável quando engravidei, trabalhando numa empresa onde a maior parte da chefia e muitos funcionários pertencem à Opus Dei.
Depois, isto causa-me algum incómodo porque de vez em quando é preciso ir a casamentos e eu ABOMINO as festas de casamento. É para mim um sacrifício passar meio dia de saltos altos a cumprir um ritual que não me diz nada, na maior parte das vezes entre pessoas desconhecidas com quem não tenho o mínimo interesse em estar. Estou-me nas tintas para a boa comida e os bons vinhos – felizmente não tenho falta disso no dia-a-dia. Odeio dançar e detesto perder tempo e num casamento PERDEM-SE horas preciosas em que se podia estar na praia, no campo, a trabalhar (sim, eu preferia trabalhar), a dormir, a fazer amor, a passear, a blogar!! Pior do que um casamento, só mesmo um casamento no pino do Verão.
Finalmente, sinto-me sempre mal quando as pessoas falam de casamentos (sobretudo mulheres, que têm uma visão mais sentimental da coisa). Quando me pedem para comentar, para contar como foi, como era o vestido da noiva, só me apetece ser mal educada. Quando as minhas amigas falam do dia mais feliz da vida delas, limito-me a sorrir, mas não encontro nada para dizer. Quando me mostram as fotografias, faço um esforço, mas é sempre um esforço. Afinal, são tantas e todas tão parecidas!...
Que me desculpem todas as minhas amigas a cujo casamento fui (e que agora estão a ver que fiz um sacrifício). Perdoem-me, mas eu não consigo controlar este sentimento! A única coisa que posso dizer em nosso abono é que fiz esse sacrifício em nome da nossa amizade! E agora, porque este post já vai longo, vou publicá-lo assim e deixar o resto para amanhã. Senão ninguém me lê até ao fim.
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6 comentários:
Compreendo o que sentes relativamente a casamentos. Admiro-te por teres feito uma vida a dois sem cederes àquela pressão social de casar só porque "é o que se faz nessas situações". Se não gostas de casamentos, porque é que tinhas de ter um? Afinal, o que é que o casamento vinha acrescentar à tua vida a dois? Tu e o teu homem não se iam amar mais só por estarem casados. Afinal, isso é só um papel.
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
Minha Cara Amiga,
Com a experiência de vida que já tenho e dentro do maior respeito pela sua postura, digo-lhe que este assunto dava um excelente tema para psicanálise.
É que, pelos vistos, a sua aversão ao casamento parece passar só pela festa, mas será?
Como não cabe ao psicanalista (neste caso «selvagem») dar as respostas, deixo-lhe, para pensar, a pergunta.
Acho uma excelente pergunta. Aliás, eu ia tentar fazer uma espécie de pseudo-psicanálise na continuação do texto. Ou seja, na segunda parte pensava tentar explicar porque é que sinto essa aversão.
Jaime, obrigada :)
Um post muito sincero e arriscado face às ideias dominantes na nossa sociedade sobre este tema. Já conheces o meu trauma em relação a festas de casamento... estou contigo ; )
Casei pelo civil e não fizémos festa.
O mais curioso deste artigo é ler uma mulher que, nesta matéria, pensa como um homem.
Claro que nunca andei de saltos mas imagino o que será adicionar essa tortura ao resto, já de si extenuante e maçador.
O último casamento a que assisti (com excepção da consumação) foi no Redondo, e o jantar (não foi copo d'água) num belíssimo "monte" Aaentejano. E o que mais apreciei foi a ementa: uma sopa, um prato de carne e algumas sobremesas que, salvo os queijos, rejeitei por terem açúcar.
Parabéns à autora por este belíssimo e oportuno texto.
Gostei!
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