20/07/06

:(

As pessoas velhas suscitam normalmente a bondade e a compaixão das outras. Fazem-nos pena, porque estão na fase final da vida, são frágeis e fracas e toca-nos a sua vulnerabilidade e a sua incapacidade para se movimentarem normalmente, para verem, ouvirem, enfim, para serem independentes e autónomas.
As pessoas muito velhas parecem naturalmente boas. Como se cada velhinho ou velhinha, independentemente do seu passado, se convertesse numa pessoa querida, só por causa da sua avançada idade. É uma ideia que me passou pela cabeça, mas acho que pelo menos algumas pessoas que estão a ler isto já sentiram o mesmo.
Infelizmente, porém, há pessoas velhinhas que são intriguistas e sonsas. Que estão muito mais lúcidas do que parecem e que se fazem ainda mais cegas e surdas, para melhor conseguirem os seus intentos. Pessoas que, por mais dó que suscitem, com as suas costas curvadas, os seus involuntários meneios de cabeça e o seu olhar distante e baço, estão a congeminar maneiras de favorecer uns e prejudicar outros, agem de má fé e tentam provocar-nos, para que digamos coisas que depois usarão contra nós.
Mesmo quando já têm 93 anos. Mesmo quando sempre nos demos bem com elas e nunca lhes quisemos mal.
E quando calha fazermos essa descoberta acerca dos nossos próprios avós, não podemos deixar de ficar tristes. E não podemos continuar a fingir que não estamos chocados, indignados, magoados. E então não conseguimos desculpá-los por serem velhos. Eu, pelo menos, não consigo.

4 comentários:

Dulce disse...

Quem nos magoa, magoa. Não interessa quem é nem a idade que tem. Se puderes perdoar, perdoa. É melhor para ti...
beijinho

papel químico disse...

: ( concordo com a dulce. tu tens, pelo menos, mais sessenta anos pela frente para te tornares uma velhinha bondosa : ) bj

Anónimo disse...

Os velhos, hoje chamados idosos (quem tem medo das palavras?), são como as crianças. Por vezes fazem maldades. Mas tenho verificado que a velhice afecta muito o discernimento. Mesmo lúcidos, são muitas vezes injustos e cruéis. E servem-se da sua fragilidade para manipular as pessoas. Sabem que podem fazer o que quiserem e dizer o que bem lhes apetece, porque partem do princípio de que ninguém tem a coragem de os contradizer. Mas, por vezes, enganam-se e...

tikka masala disse...

Eu por acaso nunca tive medo da palavra "velhos", talvez por me ter marcado um texto de Alçada Baptista, da "Peregrinação Interior", em que ele fala sobre os velhos sem nunca se questionar sobre o termo e sem nunca usar "idosos" como alternativa, defendendo-os acerrimamente e condenando todos os que os maltratam.