Resolvi dedicar-me à futurologia linguística.
Tenho andado a tomar nota, num caderninho, das palavras, expressões e construções que eu acho que vão mudar na nossa língua, a maioria das quais por uma simples razão que, de resto, tem vindo a alterar este e outros idiomas desde os tempos em que se formaram: o erro.
O erro é criticado e combatido, mas apenas quando soa mal e a generalidade das pessoas o identifica. Quando a maior parte dos falantes comete determinados erros, o mais certo é que eles acabem por vingar. Porque, em muitos casos, quem está errado ainda tem o descaramento de corrigir os outros, que estão certos (um fenómeno a que se chama “hipercorrecção”). Estes, por sua vez, começam por duvidar do que dizem ou escrevem e acabam por adoptar as estruturas erradas, que assim encontram o caminho aberto para se consagrarem pelo uso.
Para mim, algumas dessas expressões, hoje erradas mas consideradas certas por muita gente, e que de certeza vingarão daqui a uns anos, são as seguintes:
- grama vai ser um substantivo feminino (por enquanto ainda é masculino)
- avestruz também (idem)
- “concerteza” vai ser escrito assim (por enquanto ainda são duas palavras: com certeza)
- matado, morrido, imprimido, entregado, etc. vão desaparecer (estes particípios devem ser usados com o auxiliar ter, mas quase ninguém gosta deles)
- “devem haver” e “tinham havido” vão passar a ser formas correctas (hoje estão erradas)
- “há-des” e “há-dem” serão formas aceites (deturpações de hás-de e hão-de)
- “benvindo” talvez se venha a escrever assim (é bem-vindo)
Desde já vos convido a avançar com mais sugestões de erros que vão deixar de o ser daqui a uns anos. E depois vimos aqui ver este post “antigo” e confirmar as nossas suspeitas!
7 comentários:
"ir de encontro", no sentido de "ir ao encontro"
"ter que" em vez de "ter de"
bem visto, "ter que" já é mais frequente do que ter de. Mas quanto a "ir de encontro a"... tem "que" haver limites! Ou talvez não... Nesse caso, vincular também vai passar a ter o mesmo sentido de veicular!... Ainda ontem li um comunicado que a Interaves entendeu fazer, no seguimento das informações que têm sido "vinculadas" pela comunicação social... :(
E agora lembrei-me do "derivado a", que também se ouve muito (em vez de devido a).
... e "antecipar" em vez de "prever".
Mas os idiomas são mesmo assim. Impera a lei do menor esforço e o povo é quem mais ordena. Caso contrário, estaríamos ainda a falar latim. Ou algo mais arcaico. Ou a comunicarmos por estalidos da língua, misturados com urros (mais adequado a comícios madeirenses no Chão da Lagoa...
As unidades vão passar a ter plural.
Jaime
www.blog.jaimegaspar.com
e serão banais os verbos emailar, printar, scanear e downloadar!
E agora lembrei-me de outra: derrepente!!! Até se compreende, se pensarmos que depressa e devagar também já foram quatro palavras em vez de duas...
No dia em que o grama mudar de género, eu mudo de nacionalidade de vez! : )
Enviar um comentário