01/10/06

MÃE SERÔDIA

Hoje estou muito zangada com a minha filha.

Na verdade, estou zangada comigo, por ser a responsável pelas birras de mimo dela, mas a um nível mais imediato não posso deixar de me zangar com ela. Está insuportável.

Os meus pais costumam dizer que o nosso mal é sermos pais dez anos depois da idade em que deveríamos ter sido pais, ou seja, aos trinta em vez de ter sido aos vinte.

Na ideia deles, os pais com vinte têm pouca paciência para fazer as vontadinhas todas aos filhotes, estão demasiado ocupados a estudar, a procurar emprego, a procurar causar boa impressão no primeiro emprego. Para além disso, têm uma vida social mais intensa e exigente, o que os leva a deixar mais frequentemente os filhos com outras pessoas e a ser menos “galinhas” com eles.

Os pais de trintas já têm uma vida profissional mais ou menos estável. Tipicamente, são aqueles que optaram por atingir um nível económico mais favorável antes de terem filhos. Por isso mesmo, têm mais meios para satisfazer as suas vontades e caprichos e são mais “moles” com eles.

Não vale a pena desenvolver mais uma teoria que, por um lado, não é minha e, por outro, nunca me foi explicada nestes termos, mas apenas insinuada em frases breves.

Contudo, sinto que há nela um fundo de razão. Eu própria me sinto uma "mãe serôdia". E conheço muitos casais que foram pais com mais de trinta anos que têm mais ou menos a mesma conduta que eu, aquela que os meus pais censuram: cedem aos caprichos dos filhos e pensam primeiro em agradar-lhes e só depois em educá-los. Querem, sobretudo, vê-los felizes, mesmo que seja com prejuízo de umas boas palmadas quando eles merecem.

Hoje, mais do que em qualquer outra ocasião, sofri com os meus erros. A minha filha fez birra atrás de birra, fosse para me enervar, para ver até onde podia ir, ou simplesmente porque lhe deu gozo contrariar-me. Gritei com ela, enfureci-me, dei-lhe o espectáculo que ela parecia querer ver.
No fim, venci a teima, porque afinal quem manda sou eu. Mas, se a tivesse educado convenientemente, não teria havido teima nenhuma para vencer.

10 comentários:

Anónimo disse...

Essas birras e respectivas reacções têm sempre um lado positivo. Demarcam os terrenos de cada um e provam que as crises são ultrapassáveis. É sempre mais uma experiência a juntar às outras.
Não vale a pena chorar sobre o leite que se derramou.

Dulce disse...

Nem mais, deprofundis!
Agora relaxa, Tikka...

Vida de Praia disse...

Concordo com os demais - birras são essenciais para a afirmação do indivíduo como indivíduo. Se a Mecas as faz é porque se sente confiante de que não trarão uma catástrofe, não tem medo de perder o vosso amor. Prefiro crianças assim às que na sua educação são oprimidas e não expressam vontades nem caprichos e parecem inseguras e temerosas. A tua filha vai-se sair bem na vida, vais ver!

rascunhos disse...

Fui mãe a 1ª vez aos 20, a 2ª aos 31. É efectivamente diferente.Aos 30's somos mt mais "galinholas". Espera até eles chegarem à pré ou adolescência... e "te prepara cara" como dizem os brasucas.
As birras e braço de ferro vão ser ainda mais complicados.

tikka masala disse...

He, he! Animadoras, as tuas palavras, ilhota2. Eu sei que as coisas vão piorar... Apesar de ter sido uma filha bem comportada, que nunca deu problemas aos pais.

Vida de Praia disse...

Viveste em que planeta durante a tua adolescência, Tikka?

Anónimo disse...

Não sei como é ser mãe (ou pai), mas imagino que criar um filho passe por um equilíbrio precário entre educá-lo e fazer-lhe as vontades. Só se sabe que esse equilíbrio está em perigo quando já há um desequilíbrio, e então urge alterar o jogo de forças para repor o equilíbrio.

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

tikka masala disse...

Vida de Praia: Inside my own head... I guess!

Vida de Praia disse...

Ai, ai... esses são os piores!... ; )

Isa Maria disse...

eu acho que é difícil ser mãe ou pai em todas as idade e este teu texto aproxima-se muito dos meus sentimento. Com o meu rapaz de 13 anos é bem difícil a gente conjugar-se nas ideias! as vezes só me apetece andar à estalada a ele. Mas não é a força que resolve, mas a diferença de comportamento.