21/09/06

A RUA

Quando eu era pequena, tinha a felicidade de poder passar os dias na rua, sem correr perigo. Dizia, simplesmente, à minha mãe ou aos meus irmãos «vou p´rá rua» e passava horas e horas a deambular pela zona onde morava, com as minhas amigas.
Jogávamos ao elástico, íamos comprar pastilhas ou qualquer outra coisa para mastigar que os nossos escassos escudos permitissem, sentávamo-nos nuns degraus a conversar, íamos a casa umas das outras e de pouco mais me lembro, no que respeita a pormenores.
Só sei que era muito feliz e que aquela liberdade nunca vai poder ser sentida pela minha filha. Ela não vai saber o que é poder dizer «vou p´rá rua», passar uma tarde inteira a brincar na rua, chegar a casa a cheirar a rua, sentir a rua como uma espécie de recreio gigante.
Os tempos são outros e hoje em dia só os pais irresponsáveis é que deixam os filhos pequenos andarem pela vizinhança, sem saberem bem onde estão. Não creio que os meus pais fossem irresponsáveis. Simplesmente confiavam em mim e, sobretudo, confiavam na sociedade. Numa sociedade que já não existe.

2 comentários:

rascunhos disse...

E o cheiro do final das tardes de primavera... enquanto os mais velhos iam ao terço, a pequenada ficava no jardim central a brincar à apanhadinha.E a subir árvores,para descobrir esconderijos só seus. E ao molhinho...
Hoje os miudos estão em casa no computador e falam com os amigos pelo messenger.
Sinais do tempo.

Vida de Praia disse...

Outros tempos... Os meus pais nunca confiaram o suficiente em mim ou na sociedade de então para me deixarem "ir p'rá rua". Sentada à janela a ver os outros miúdos lá da rua a correr, a jogar à bola, a vadiar uns com os outros sempre lhes invejei a sorte. Quem me dera que tivesse sido eu...
A tua filha não vai ter saudades de "ir p'rá rua", porque nenhuma das amigas o faz.