27/11/06

O ALGARVE SÓ PARA NÓS

Assim fosse sempre o Algarve: tranquilíssimo, quase deserto.

Nada como um fim-de-semana de prenunciado mau tempo para gozar aquilo que os outros preferem no Verão, quando o calor, as melgas e os turistas o tornam num inferno disfarçado de paraíso.

É certo que a viagem foi atribulada, debaixo de um aguaceiro furioso e de um vento demoníaco, acompanhados de relâmpagos e trovões qb.
Mas valeu bem a pena! Enquanto choveu, divertimo-nos a pintar os três, com todo o tempo do mundo para dedicar à nossa filha, para a acompanhar nos devaneios da sua imaginação.

E se no sábado à tarde já foi possível fazermos um agradável passeio ao ar livre, no domingo a paisagem parecia ouro sobre azul. Houve pequeno-almoço na varanda, sobre as copas dos pinheiros, com prolongamento nas espreguiçadeiras, para ajudar a digestão.

O almoço foi na esplanada de um restaurante modesto, mas excelente e com uma larga vista para a marina. Sobre a mesa, um enorme robalo escalado, batatinhas salteadas em alho, coentros e azeite e salada de tomate e pimentos verdes. De comer e chorar por mais!
À nossa frente, cinco miúdos privilegiados remavam num pequeno barquito, onde mal cabiam todos. Quando um remo caiu à água, divertiram-se a tentar apanhá-lo, em grande algazarra. Uma das raparigas, que não teria mais de dez anos, deixou-se finalmente cair do barco, ao esticar-se para o alcançar. Nunca terá imaginado que, naquele momento, debaixo do sol generoso de Novembro, à mesa da esplanada, estavam adultos a invejar a sua sorte, a desejar ardentemente voltarem a ser crianças e divertirem-se assim como ela.
Em todo o caso, antes estar ali a vê-la do que na cidade cinzenta, da qual nunca teríamos saído se eu não tivesse dominado o meu pessimismo natural.

21/11/06

O MEU ANIVERSÁRIO


Quer me sinta bem ou mal, feliz ou triste, o meu aniversário é sempre um dia especial.

Acordo de manhã e sinto uma aura inexplicavelmente agradável à minha volta, como se estivesse destinada a ser apaparicada por toda a gente, conhecidos e desconhecidos, por um dia inteiro, pelo simples facto de ter nascido há x anos. Saio para a rua sorridente, como se o mundo estivesse mais belo e como se na minha testa estivesse escrito: «Hoje faço anos. Mimem-me!»

É óbvio que, à medida que as horas passam e as pessoas com quem me cruzo demonstram ignorar completamente o facto de me deverem tratar especialmente bem, à medida que me vão acontecendo percalços e incidentes que desmentem a minha teoriazinha e chegam a deitar por terra a minha boa disposição, acabo por me consciencializar de que se trata, afinal, de um dia igual aos outros. Isto no que toca à tal aura mágica, claro. Porque os amigos e a família nunca se esquecem de me telefonar e alguns até insistem em ver-me nesse dia, para me felicitarem pessoalmente.

É então aí que se me coloca o grande dilema: o que fazer?

Quase toda a gente que conheço gosta de reunir os amigos e ir jantar fora. É uma boa maneira de ver as pessoas de quem gostamos e que gostam de nós, sem ter trabalho e gastar dinheiro a preparar uma recepção em casa. Quase toda a gente que conheço, também, fica satisfeita com esse tipo de iniciativa e adere de bom grado. Os mais “tesos” declinam educadamente o “convite” para jantar fora, mas fazem questão de aparecer no fim da refeição, à hora do café.

Porém, a mim não me agrada muito fazer este pseudo-convite aos amigos: chateia-me obrigá-los a gastar dinheiro duplamente, porque, além de terem de pagar o seu jantar, eles não vão aparecer sem uma lembrança e, hoje em dia, qualquer coisa decente para oferecer custa uma quantia considerável – pelo menos do meu ordenado. E escusam de me dizer que até parece mal estar a contar com presentes... porque eu até preferia que não se incomodassem. O problema é que os amigos não encaram isso como um incómodo, e têm gosto em dar alguma coisa a quem faz anos (eu também tenho, quando sou a amiga do/a aniversariante). No tempo das vacas gordas, eu oferecia o jantar e, assim, sentia-me bem melhor com a minha consciência. Mas hoje não posso fazer isso.

Por outro lado, há a delicada questão da escolha dos felizes contemplados: se começo a telefonar aos amigos todos, acabam por ser mais de vinte e não consigo falar com todos durante o jantar, o que sempre me deixa uma certa insatisfação após o evento. Se digo apenas a uma pequena parcela, para que o jantar seja mais íntimo, corro o risco de me sentir mal por deixar alguns de fora, ou até por ter de lhes mentir, porque eles também vão telefonar a perguntar o que faço nessa noite.

Estes meus dilemas, de que me alimento de forma absolutamente viciada, fazem-me lembrar um anúncio que se ouvia há tempos, em que um homem nunca decidia nada, porque via o lado bom e o lado mau de tudo, ficando em permanente hesitação. É claro que eu só tenho até determinada altura para hesitar; a partir daí, se não telefonei aos amigos, não há jantar nenhum. Mas a mim parece-me que deve haver uma terceira hipótese de que ainda não lembrei. Algo mais original e “leve” para todos... ?


20/11/06

PEQUENO CAOS



Tenho a casa cheia de tralha e isso incomoda-me bastante. É incrível, mas a consciência de que há cobertores que nunca uso, molduras velhas, caixas com coisas que me deram e de que nunca gostei e roupa que já não me serve dentro dos armários é suficiente para me trazer assim irritada, frustrada, como estou hoje.
"Detesto tralha!" é uma frase que digo muitas vezes, quando já não sei o que fazer e não aguento mais a quantidade de objectos inúteis à minha volta.
Faço planos para um futuro próximo: esvaziar cada roupeiro de toda a tralha que não me interessa guardar e dá-la a quem eventualmente precisa. Depois hesito: mas quem é que poderia precisar das minhas coisas inúteis? Dos cobertores ainda vá... da roupa, se calhar, alguma. E aquelas coisinhas todas, aquela quantidade de tarecos que provavelmente ninguém quer? Lixo com eles?
O problema é que eu tenho uma atitude muito ecológica em relação ao lixo: só se deita fora, em último caso, aquilo que não tem mesmo qualquer hipótese de ser aproveitado. Afinal, essas "tralhas" de que não gosto até podem ser do gosto de outras pessoas... e algumas até podem ser úteis, apesar de não terem utilidade para mim. Volto à estaca zero. Entretanto, tenho mais que fazer: preparar aulas, materiais, refeições, arrumar a casa, passear o cão. As tralhas podem esperar.
Mas depois, quando não estou à espera, parecem mirar-me de dentro dos roupeiros, como se as portas fossem transparentes, a ver se eu reparo nelas. «Estamos aqui a ocupar espaço! Livra-te de nós!...» Sinto-lhes a presença a atafulhar a casa, enquanto trabalho, sentada à secretária. Enervam-me. E finalmente, quando me levanto para ir buscar alguma coisa a uma gaveta e não encontro o que procurava porque a gaveta está CHEIA DE TRALHA... AAAAAAAAAAARRRRRGH! Dá-me uma coisa e tiro tudo lá de dentro, para decidir de uma vez por todas o que é que sai e o que é que merece ficar lá dentro.

Contudo, essa escolha demora sempre muito mais tempo do que aquele que eu tenho disponível, nesse intervalo que se impôs no trabalho que estava a fazer. Ao fim de uma hora, desesperada por ter desperdiçado o meu rico tempo numa tarefa tão pouco produtiva, depois de me ter distraído a ver fotografias e as recordações mais parvas que se podem guardar, volto a pôr tudo na gaveta, numa ordem que é apenas aparente e extremamente frágil. E a vida continua, na minha inglória convivência com o caos.





17/11/06

MANIAS



Para responder ao convite da Dulce, por sua vez inspirada pela Xuinha, venho hoje confessar publicamente cinco das minhas manias, de acordo com o Regulamento, que cito na íntegra:

"O regulamento é o seguinte:
Cada bloguista participante tem de enunciar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais. E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". Ademais, cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."


1 - Tenho a mania das limpezas e arrumações. Não consigo começar a trabalhar em casa enquanto não estiver tudo arrumado, em todas as divisões. E na cozinha, passo constantemente um pano no lava-loiças para eliminar quaisquer pinguinhas de água que ameacem manchar o inox. Uma verdadeira doença obsessiva-compulsiva.

2 - Tenho a mania de ir à casa-de-banho às escuras, inclusive para tomar duche. Uso apenas a luz que entra pela porta, o que é pouco, considerando que às vezes a casa está na penumbra e a casa-de-banho não tem janelas. Não sei explicar por que faço isto... será para poupar electricidade? Ou para não ter de me ver ao espelho?!

3 - Tenho a mania de usar um saquinho de plástico para os pequenos lixos que faço enquanto estou na cozinha. Nunca deito o lixo directamente no caixote, vai sempre para o tal saquinho. Faço questão de aproveitar os sacos da fruta e dos legumes para os lixinhos da cozinha. E só quando acabo as tarefas na cozinha é que os ponho no caixote.

4 - Tenho a mania de rapar o prato. Nunca deixo nem um grão de arroz, mesmo que me custe acabar a refeição. É uma mania muito estúpida, porque como quase sempre mais do que preciso e devo, por causa disso.

5 - Tenho a mania de dizer não. O que é ridículo, porque não sei dizer não. Passo a explicar: quando alguém me pede alguma coisa, tenho a mania de responder logo que não, mas é mesmo só por mania. Porque acabo sempre por fazer o que me pedem e, mesmo quando sei que devo recusar, não consigo fazê-lo.

Após estas confissões, devo dizer que me sinto bastante envergonhada. Ainda não sei se quero que toda a gente saiba que tenho estas manias... Mas, pensando bem, estou disposta a sofrer as consequências. Porque, confesso, também tenho a mania de me confessar!

Finalmente, convido a isamar, a Vida de Praia, a Papel Químico, o Jaime e a ilhota2 a contarem-nos também as suas manias.





16/11/06

Ó mãe, eu não vou morrer, pois não?



Hesitei. Mas depois, felizmente, saiu-me a resposta sensata: «Não, querida!»

Um passarinho morto no chão da rua foi o primeiro contacto dela com essa ideia estranha e perturbadora, que acaba, mais cedo ou mais tarde, por levá-los a questionarem-se e a questionarem-nos.

Preferia "de onde vêm os bebés?", que é uma história muito mais gira de contar.

Gostava de acreditar nalgum Deus, na harmonia tranquilizante do Céu com maiúscula. Mas a minha cabeça obstinada não me permite pensar que isso é outra coisa além de uma fantasia absurda. E nem o pavor de morrer me faz esquecer os argumentos da razão em nome da paz de espírito.

Não quero, porém, transmitir essa inquietação à minha filha. Não quero que ela acorde, como eu, a meio da noite, apavorada com a noção - subitamente clara - de deixar de existir. Por isso lhe digo que não, que não vai morrer.

Mas ela insiste: «e tu, mãe? Tu não vais morrer, pois não?»

12/11/06

Matilde Rosa Araújo

Como podemos definir o que nos liga a uma pessoa que nunca víramos antes? Como explicar a empatia sentida de imediato, após a primeira troca de olhares e de palavras?

Uma história que me tinha feito chorar era tudo o que conhecia dela.
Uma ternura generosa, transbordante, foi o que me conquistou ontem.
Senti-lhe uma doçura enorme naqueles olhos atentos, naquele rosto ainda tão belo. Dela transparece uma alma que se adivinha boa, que parece oferecer-se aos outros.
Observou-me com interesse, falou-me com tanta consideração e quase estima, que parecia impossível que não me conhecesse há muito tempo. Comovi-me com a forma como deu a mão a uma amiga, por várias vezes, durante a apresentação do livro. Apeteceu-me dar-lhe a mão também!...

Já antes tinha pensado que gostaria de chamar Matilde a uma filha. Agora mais ainda!

08/11/06

OSSOS DO PSEUDO-OFÍCIO


Há dias escrevi um poema sobre a frustração do professor. Não disse que era um poema, não escrevi a palavra poema no título, mas escrevi o texto com rima e métrica, para que tivesse uma musicalidade óbvia e fosse identificado como sendo, senão artístico, pelo menos pretensamente artístico.

Quando as pessoas o leram, reagiram ao conteúdo, assumindo que era um texto sobre a minha própria frustração. Bem sei que estava escrito na primeira pessoa, que foi publicado num blogue onde raramente se fala de outra coisa além de mim própria e do que sinto, que a maior parte dos leitores sabe que o sentimento ali descrito já foi por mim explorado noutros textos de carácter confessional, ou até mesmo desabafado oralmente.

Longe de mim criticar todas as pessoas que me consolaram e me deram bons conselhos, que me elogiaram e que me expuseram a sua perspectiva sobre o problema. Mas pergunto-me, no entanto, se aos poetas em geral também acontecem esses incidentes: escreverem um poema e virem os amigos pôr-lhes a mão no ombro, dizer-lhes que melhores dias virão. E sem querer comparar a minha débil escrita com a arte de Camões, fico a pensar se a ele também vieram dizer, a propósito de um soneto, que não ficasse triste, que a sua amada voltaria, ou que ainda estaria à sua espera quando ele voltasse.

Sem dúvida, o que define a literariedade de um texto não é uma qualidade intrínseca, nem será o estatuto do autor (porque algum texto há-de ter sido o primeiro, e no entanto foi reconhecido como sendo literário). Concluo que quem decide se um texto é ou não literário (neste caso, poético) é a comunidade de leitores. Assim se explica que o meu lamento tenha sido lido apenas enquanto lamento e que uma única frase, como esta: “Vou atirar uma bomba ao destino”, seja o poema número 42 na antologia Livro de Versos de Álvaro de Campos, mesmo que esteja inacabado, mesmo que o autor não tivesse pretendido escrever nem sequer a primeira linha de um poema, mesmo que tenha sido escrito num pedaço de pacote de açúcar abandonado num café.

INSPIRAÇÃO



- O que é que hei-de escrever no blogue?

- Queres uma ideia de que tipo?

- Sei lá... aquelas ideias que surgem quando estamos a conversar... às vezes dizemos: “pois é, devia escrever sobre isso no blogue!”

- Vamos almoçar, que surge logo uma ideia boa!

- Pois, com um naco de bife entre os dentes todas as ideias parecem boas!...

07/11/06

CRUELDADE INOCENTE



Mecas – És tão querida porque tens a barriga tão grande!

Mãe – Oh!... Não digas isso!...

Mecas – Porquê?

Mãe – Porque eu não quero ter a barriga grande...

Mecas – És tão querida porque tens a barriga maior!...

06/11/06

PERIGO IMINENTE




















Um relâmpago ofuscante, um trovão como nunca ouvi antes na vida. A minha filha estava quase a adormecer e apanhou um susto enorme. Parecia uma guerra a rebentar em cima das nossas cabeças. Fomos consolá-la. Foi a primeira vez que ela chorou por causa de uma tempestade.

Só espero que nunca os elementos se tornem verdadeiramente ameaçadores, ao ponto de pôr em risco a nossa vida. As trovoadas nunca me meteram medo (excepto hoje), mas sempre tive pavor de que algum dia houvesse um terremoto, como o de 1755, que destruísse tudo.
Se fosse católica, rezaria todos os dias para que isso não acontecesse. Se acreditasse nalgum deus, nalgum poder por mim convocável ou subornável, acho que levaria a vida a tentar comprar a paz de espírito que me daria a certeza de isso nunca acontecer enquanto eu vivesse. Como não sou, como não acredito, resta-me não pensar nisso. Ou tentar.

05/11/06

Recantos


Recantos que nos preenchem, de uma forma subtil e bela.
Olhamos para eles e ficamos com o seu encanto gravado na memória.
Pertencem-nos, porque só nós os olhámos daquela maneira, naquele momento.
Pertencemos-lhes porque nos rendemos à sua beleza natural, que se nos ofereceu assim, sem pedir nada em troca.
Lugares mágicos, simplesmente porque os vemos sob uma determinada luz, conscientes dela, deles, de nós próprios.
Consciência de nada sermos, de nada sabermos, excepto nesse rasgo de luz em que tudo parece fazer sentido.

03/11/06

APETECIA-ME ALGO...





Não, esta frase artificial daquela senhora italiana muito sofisticada, que é viciada em chocolates, não significa que vou falar da respectiva marca, ou do anúncio.

Na verdade, serve apenas de mote ao tema dos supostos “desejos” das grávidas, em que eu nunca acreditei.

A paradigmática ida do marido, a meio da noite, a uma loja de conveniência comprar uma melancia, salmão fumado, uma lata de esparguete à bolonhesa (ou bombons Ferrero Rocher!), porque a mulher, grávida, está com uma vontade incontrolável de comer uma coisa que não lembraria ao diabo não me convence!

Ou melhor: acho que as pessoas que não estão grávidas sentem desejos improváveis com a mesma frequência que as grávidas – a única diferença é que não lhes passa pela cabeça pedir ao respectivo cônjuge que os satisfaçam!

A sorte das grávidas é gozarem de um estatuto que lhes permite esperar que seja feita a sua vontade. E eu, se voltar a engravidar, faço tenção de usufruir ao máximo desse privilégio. Não para me alambazar com arenque fumado a meio da noite, nem para fazer o meu marido andar pela cidade à procura de cogumelos frescos a horas imorais, ou para ter o prazer guloso de comer uma dúzia de mangas fora da época, mas para ir fazer um belo cruzeiro de duas semanas, para fazer uma viagem a um país exótico, ou para mudar para uma casa maior num sítio melhor, simplesmente porque de repente se tornou insuportável viver aqui... :)

01/11/06

Minha querida filha,

Não estás longe, mas a pureza alegre dos teus olhos, que me faz sentir tão realizada, é de uma beleza tão intensa, que não te consigo dizer o que penso. Embora saiba que talvez me compreendesses...
Olho para ti, a rir, e tenho medo. Tu és ainda tão frágil - (somos todos, eu sei!) - e tão jovem, que me pergunto se poderás ser sempre assim feliz como hoje.
O nosso velho planeta está cada vez mais frágil, não sei por quanto tempo ainda poderá ser a nossa casa. Lembro-me de pensar, quando ainda tinha menos de dez anos, que havia muitas pessoas a fazer mal ao ambiente e que, se não parassem de matar animais e plantas e de poluir o ar, a água e a terra, o mundo iria transformar-se num lugar sujo, nu, feio e perigoso.
Passaram mais de vinte anos e as ameaças ao planeta são cada vez mais sérias, os danos claramente irreversíveis. Pergunto-me se daqui a 50 anos, quando eu for muito velha e tu tiveres filhos adultos, teremos alguma qualidade de vida ou andaremos todos de máscara, por causa da poluição, vestidos da cabeça aos pés, por causa das radiações, e desidratados, por causa da falta de água, sobrevivendo a custo, esquecidos há muito do que é rir assim, como tu ris hoje.
Pergunto-me se terei feito bem em trazer-te ao mundo.
Mas, sabes, fazes-me tão feliz, e sinto-te tão feliz, que este tempo que passamos juntas agora, estes abraços que me dás e essas gargalhadas com que me animas já valem a pena. Venha o que vier, o presente contigo é o maior presente que poderíamos dar uma à outra, a melhor recordação a que poderíamos precisar de recorrer, no futuro. Valha-nos isso.
Adoro-te muito.